Natureza, cultura e política: lutas e resignificações de atingidos pelas hidrelétricas do “Complexo do Rio Madeira” em Porto Velho
Texto Acadêmico

“No município de Porto Velho, no estado de Rondônia, em plena Amazônia brasileira, encontram-se sendo construídas as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau (…). Essas construções fazem parte da agenda do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, apresentado e executado em todo o país no mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). (…) Nas justificativas apresentadas para a execução dos projetos e em sua contraposição, um chão de interesses econômicos e políticos, assim como conflitos sociais foram desencadeados. As hidrelétricas (…) de muitas maneiras são lançadas ao panteão mais alto dos interesses ‘desenvolvimentistas’ nacionais na cena histórica dessa primeira década do séc. XXI.

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA, 2005), elaborado pela empresa Leme Engenharia Ltda. para o Consórcio constituído por FURNAS Centrais Elétricas S.A. e a Construtora Norberto Odebrecht S.A. para as obras em Rondônia, o (…) argumento apresentado assim se coloca:

‘Na atualidade, praticamente, o potencial de todos os rios de grande porte das regiões Sul e Sudeste do País já está estudado, e os melhores aproveitamentos hidrelétricos já estão sendo explorados. As melhores alternativas hidroenergéticas disponíveis encontram-se na região Amazônica, onde se concentram 51% de todo o potencial hidrelétrico brasileiro e onde, até 2000, apenas 5% do potencial hidrelétrico regional se encontrava em exploração’. (…)

Entretanto, cientistas, instituições, movimentos e organizações sociais vêm se mobilizando e se contrapondo ao projeto junto a várias instâncias do Governo Federal, assim como também aos grupos empresariais formados para a ‘exploração’ da eletricidade que virá a ser produzida. Sobre o números da população que será atingida pela construção das usinas há também controvérsia:

‘O EIA/Rima identificou 2.849 pessoas atingidas diretamente pelos reservatórios das usinas, 1.087 no caso de Jirau e 1.762 no de Santo Antônio. Os núcleos urbanos afetados, segundo o estudo, serão a vila de Mutum-Paraná (totalmente inundada) e a vila de Jaci-Paraná (parcialmente). Também deverão ser deslocadas as comunidades ribeirinhas de Teotônio e Amazonas. Mas outras comunidades existentes nas áreas impactadas não foram citadas, entre elas Porto Seguro, Engenho Velho e três assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Joana D’arc I, II e III, com cerca de 1.070 famílias), o que demonstra as falhas do levantamento. Além disso, a bióloga Adriana R. C. W. Barcelos (…) constatou que 35% das famílias da área da usina de Santo Antônio não foram entrevistadas no EIA/Rima, realizado pelas empresas Furnas e Odebrecht’.(…)

Interpretar o presente da construção das hidrelétricas no Rio Madeira articula compreensões relacionais com tempos diversos vividos em Rondônia e, por sua vez, na Amazônia como um todo. Para o senhor Heleno (…) as atuais barragens em construção assumem dimensões aproximativas com outros momentos e processos vividos naquele lugar (…):

‘O negócio dessas hidrelétricas que esse pessoal estão construindo aí: tem gente que… eles acham. As empresas, eles acham que estão fazendo uma grande melhoria pro pessoal ribeirinho. Eles estão acabando com tudo, eles estão acabando com o povo ribeirinho. Porque é o seguinte, eles dizem: ah! nós vamos dar uma indenização pro povo ribeirinho, você escolhe uma casa, você escolhe o que quiser. Mas, meu amigo, o senhor me diga que uma pessoa que convive 20, 30, 40 anos num canto, ele vai pegar pra fazer um canto como ele tinha? Nunca na vida mais. Não faz. Faz? Não faz. Não tem, não tem como. Não tem terreno pra ele fazer meu amigo. O terreno que ele tinha era aquele. Pra você vê, eu que moro ali num pedacinho de terra nosso ali, eu estou convivendo ali com quarenta e poucos anos que nós convive ali. Ali se eu for plantar um pé de macaxeira ele dá, se eu for plantar um pé de banana ele dá. Qualquer coisa que eu plantar ali ele dá, agora se eu for pra outra terra, aquilo ali já não vai dar mais.’”

Sobre este documento

Título
Natureza, cultura e política: lutas e resignificações de atingidos pelas hidrelétricas do “Complexo do Rio Madeira” em Porto Velho
Tipo de documento
Texto Acadêmico
Palavras-chave
Santa Catarina Indígena
Origem

Robson Laverdi. Natureza, cultura e política: lutas e resignificações de atingidos pelas hidrelétricas do “Complexo do Rio Madeira” em Porto Velho. In: X Encontro Nacional de História Oral. Recife, 26 a 30 de abril de 2010. Acessado em: http://www.encontro2010.historiaoral.org.br/resources/anais/2/1269096901_ARQUIVO_robsonlaverdi-recife2010-pronto.pdf

Créditos

Robson Laverdi