“Como se sabe, dragões são grandes lagartos ou serpentes aladas, com hálito de fogo e poderes sobrenaturais. Presentes na mitologia de povos tão diversos como chineses, europeus e astecas, são vistos ora como fonte de sabedoria e força, ora como feras malignas.
Conta-se que, há muito tempo, um dragão saiu dos verdes mares bravios, em uma praia nomeada em homenagem à índia Iracema, personagem de José de Alencar (1983 [1865]). No mito do romancista cearense, a ‘virgem dos lábios de mel’ não foi vítima do dragão, e sim do cavaleiro que deveria protegê-la, Martin Soares Moreno. Do encontro do colonizador com a jovem tabajara nasceu Moacir – o ‘filho da dor’, conforme a etimologia alencarina. E de Moacir descendem os cearenses, um povo de olhos voltados para além-mar, tal como o Guerreiro Branco.
Mais de dois séculos se passaram desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Ceará e eis que o mar nos trouxe outro herói mitológico: o jangadeiro Francisco José do Nascimento, conhecido como ‘Chico da Matilde’ (nome de sua mãe). Em 1881, a pedido dos integrantes do movimento abolicionista cearense, ele liderou os jangadeiros que se recusaram a embarcar escravos no navio que iria levá-los para outras províncias. Abolicionistas do Rio de Janeiro promoveram sua ida à Corte, onde recebeu homenagens amplamente divulgadas. A imprensa passou a se referir ao jangadeiro como ‘Dragão do Mar’, alcunha que substituiu o prosaico apelido ‘Chico da Matilde’. (MOREL, 1988).”
Sobre este documento
Linda M. P. Gondim. “O dragão e a cidade: lendas do Ceará”. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS Unirio, MAST. Museologia e Patrimônio, v. 2, n.2 – jul/dez de 2009, p. 14
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http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/69/69
Linda M. P. Gondim