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Tropa diferente
Artigo de revista

“(…) ° viajante inglês Henry Koster, que chegou ao Recife no início do século XIX (…) imediatamente se impressionou com a boa aparência dos Henriques, uma milícia negra que, segundo o cronista, era o mais organizado e garboso de todos os corpos militares de Pernambuco. Um grupo que, além disso, contava entre suas fileiras com homens agraciados com títulos nobilitantes, como o Hábito da Ordem de Cristo e o da Ordem de Santiago (…)

Os Henriques eram assim chamados por causa de seu fundador, Henrique Dias (?-1662), homem preto, livre no período da guerra, e sobre quem pouquíssimo se sabe, nem mesmo sua data de nascimento. Assim como outras milícias, seu grupo era formado por homens livres que não atuavam como militares profissionais, não recebiam soldo e tinham que bancar sua farda e suas armas. Por essa razão, todos eles precisavam ter outra profissão. Mas a honra de se destacar pela boa reputação, diante de um desprestigiado e empobrecido exército português, era o bastante para qualquer tropa miliciana, em geral organizada separadamente em tropas brancas, pardas e pretas. E era ainda mais importante no caso dos Henriques.

Esse terço – denominação seiscentista para as tropas de origem ibérica de qualquer tipo – foi criado de acordo com a tradição militar do século XVI, que usava colonos para formar tropas. Foi assim que Dias arregimentou voluntariamente, em 1633, uma unidade formada por negros que se puseram a serviço daqueles que lutavam contra a ocupação holandesa. Mais tarde, em 1639, ele recebeu a patente de “governador de crioulos, negros e mulatos”, enquanto sua tropa não parava de crescer. Em 1647 ele contava com 300 soldados, entre escravos – muitos deles doados por senhores de engenho – e forros.

(…)

O fundador do terço, Henrique Dias, chegou a receber o Hábito da Ordem de Cristo, um título que equivalia ao de fidalgo, muito cobiçado pelos senhores de engenho, que raramente conseguiam obtê-lo. Mesmo assim, a trajetória de Dias espelha as muitas contradições associadas aos Henriques: ele pode ter morrido Cavaleiro da Ordem de Cristo, mas não parou de pleitear as recompensas financeiras constantemente atrasadas que a Coroa lhe prometera.

Apesar disso, era tanto o prestígio dos milicianos que um dos genros de Dias, Amaro Cardingo, tentou conquistar a mesma Ordem de Cristo. Ele era um homem livre de segunda geração, ou seja, filho de forros. Jamais servira como escravo e se casara com a filha do negro mais importante da Colônia. Mas nunca conseguiu o hábito, pois a Coroa – cujas regras determinavam que todos os nobres deveriam estar livres de ‘máculas’ de ascendência judaica, moura, negra ou índia até a quarta geração para que pudessem obter a comenda – comprovou que seus avós haviam sido escravos.

Investigar o passado das pessoas que pleiteavam títulos de fidalguia era prática comum no Império português (…) No entanto, a Coroa sabia ser flexível e conceder hábitos das ordens para pessoas com comprovadas ‘máculas’, mas suficientemente influentes nas colônias. (…)”

Nobilitante: que confere nobreza, enobrece;

AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/

Sobre este documento

Título
Tropa diferente
Tipo de documento
Artigo de revista
Palavras-chave
História da Arte Pintura
Origem

Kalina Vanderlei Silva. “Tropa diferente”. Revista de História Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: 2/3/2011. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/tropa-diferente

Créditos

Kalina Vanderlei Silva.