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Os lugares de memória dos Mucker
Texto acadêmico

“(…) O conflito Mucker (1868-1874) marcou de forma definitiva a história do atual município de Sapiranga (RS) no qual ocorreu o conflito e que no século XIX correspondia a parte da Antiga Colônia Alemã de São Leopoldo, fundada em 1824 por D. Pedro I. O conflito, de caráter messiânico, ocorreu em um ambiente de muitas transformações econômicas e sociais associadas ao processo de imigração alemã que ocorria no século XIX no sul do Brasil. (…)

Inicialmente, a difusão de determinadas representações sobre os Mucker e sobre sua líder Jacobina, se deu através da publicação da obra Os Mucker (1906, 2.ed.), por Ambrósio Schupp, um jesuíta alemão que chegou no Brasil em 1874, mesmo ano do desfecho do conflito. Deve-se, principalmente ao conteúdo de sua obra a construção de um imaginário essencialmente negativo em relação ao grupo liderado por Jacobina e que acabou se difundindo entre a população. Mesmo com estudos posteriores, como o de Leopoldo Petry (1957) e de estudos acadêmicos como os de Janaína Amado (1976), João Guilherme Biehl (1991) e Maria Amélia Dickie (1996), que procuraram dar outras versões sobre o conflito, os Mucker continuaram sendo conhecidos pela comunidade sapiranguense como um grupo de fanáticos religiosos até o início do século XXI.

A ausência de fontes documentais produzidas pelo próprio grupo fez com que durante muito tempo a única versão dos fatos fosse a presente nos autos dos processos judiciais e nas fontes orais do lado daqueles que derrotaram os Mucker. Daí ser possível falar de uma ausência de ‘voz’ por parte dos vencidos, que não tiveram a oportunidade de ‘contar’ a sua própria versão dos fatos. Outro fator, (…) é a ausência de imagens que materializem os personagens ou até mesmo o cenário na época do conflito, o que torna o grupo – e de forma especial sua líder Jacobina – mais enigmático.

A única forma de registro que encontramos sobre a líder dos Mucker é uma fotografia, cuja veracidade é fortemente questionada (…)

Além da produção historiográfica existente sobre o conflito e da veiculação de determinadas imagens e representações sobre sua líder, precisamos observar o processo que envolveu a ressignificação do episódio ao longo das décadas que se sucederam ao seu desfecho. A própria imprensa foi, nesse sentido, um importante veículo de difusão de imagens e representação sobre os Mucker, que acabou reforçando o imaginário fanatizado e unilateral sobre os fatos ocorridos (…) a própria imprensa sapiranguense, que nas décadas de 1950 e 1960 publicou uma série de reportagens sobre o episódio. Nela, os Mucker foram sempre apresentados como culpados.

Na década de 1990, (…) as pessoas ainda tinham receio em falar sobre o tema na região. É precisamente a partir dessa fase que podemos falar em um processo de ressignificação e difusão de novas imagens e representações sobre os Mucker (…) num processo que nos permite identificar a heroicização de sua líder e, consequentemente, do grupo por ela liderado (…)”

Mucker: A palavra mucker era usada como sinônimo de “beato”, “fanático”, “santarrão”. Assim os adversários designavam, na época, pejorativamente, os rebeldes. Atualmente a palavra é utilizada em certas regiões da Alemanha como sinônimo de “resmungador”, “criador de caso” (…) O próprio tempo encarregou de retirar-lhe o conteúdo pejorativo.

Janaína Amado. A revolta dos Mucker. 2.ed. São Leopoldo/RS: Editora Unisinos, 2002. p. 21 e 27.

Sobre este documento

Título
Os lugares de memória dos Mucker
Tipo de documento
Texto acadêmico
Palavras-chave
Primeira República Fotografia Cangaço
Origem

Daniel Luciano Gevhr. Os lugares de memória dos Mucker e a construção da imagem de sua lider Jacobina Mentz Maurer. In: III Encontro Nacional de Estudos da Imagem, Londrina/PR, p. 758-760. Acessado dia 15 de fevereiro de 2013 em: http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/trabalhos/pdf/Daniel%20Luciano%20Gevehr.pdf

Créditos

Daniel Luciano Gevhr