“(…) a pesquisa da História da Cartografia sobre a origem da cartografia é infinita. Os historiadores acreditam na possibilidade de descobrir mapas mais antigos que o de Catal Hyük [6200 a.C.], devido ao fato de que os materiais utilizados nas representações cartográficas da Antiguidade eram menos frágeis – esses mapas sobreviveram bordados, desenhados, escritos, esculpidos, fundidos, gravados, impressos, pintados e talhados sobre argila, couro, cortiça, fibras vegetais, madeira, metal, papel, pedra e tecido em conchas do mar, Estelas de barro, folhas de papiro, ossos de animais, paredes de cavernas, potes de cerâmica, rochas magmáticas, troncos de árvores, e vasos de porcelana – do que os utilizados nas representações cartográficas contemporâneas. Mas a palavra cartografia só foi inventada e utilizad(a) pela primeira vez pelo português Manuel Francisco de Barros e Souza de Mesquita de Machado Leitão e Carvalhosa (Lisboa, 1791 – Paris, 1856), o Visconde de Santarém (…).
Nos séculos XV e XVI, era mais correto denominar os cartógrafos de cosmógrafos, porque eles produziam não somente mapas terrestres e cartas marítimas, mas também estudos sobre o Cosmos, o Universo, ao qual (…) não eram desvinculadas. Na Antiguidade, o estudo dos astros (a astronomia) não estava desvinculado do estudo dos signos (a astrologia), que (…) junto à geografia e a matemática, estava vinculada à cartografia. Portanto, muitos cartógrafos/cosmógrafos vão incluir em seus mapas um mapa celeste, dos céus.
A historiografia data a origem da cartografia na Grécia Antiga, berço da Civilização Ocidental, onde (…) os gregos construíram um valioso patrimônio geográfico, cartográfico e histórico. Segundo Isa Adonias e Bruno Furrer, ‘Aos gregos devem-se a concepção da esfericidade da Terra, as noções de pólos, equador e trópicos, o conhecimento da obliquidade da eclíptica, a idealização dos primitivos sistemas de projeção, a introdução das longitudes e latitudes, e o traçado dos primeiros paralelos e meridianos’. (…)
Apesar da historiografia datar a origem da cartografia científica nos séculos XIII e XIV, sua produção antecede a das cartas-portulanos. Cláudio Ptolomeu, astrônomo/astrólogo, geógrafo e matemático, data o início da cartografia científica, mas, também, o fim do impulso grego e alexandrino na cartografia antiga. (…)
Durante a Alta Idade Média, o conhecimento dos gregos ficou guardado pelos árabes e bizantinos – que eram bilíngues, falavam, além do grego, o árabe, primeira língua para a qual a Geografia de Ptolomeu vai ser traduzida, no século IX. A queda de Constantinopla – capital do Império Romano do Oriente -, em 1453, fez com que muitos Sábios migrassem para a Europa – assim como muitos Sábios árabes migraram para a Península Ibérica (…), trazendo a Grécia Antiga para o Ocidente medieval (…)
(…) Cristóvão Colombo leu a Geographia de Cláudio Ptolomeu e imaginou que era possível chegar às ‘Índias’, no Oriente, navegando pelo Ocidente, já que, segundo o mapa-múndi ptolomaico, havia um continuus territorial entre a África e a Ásia – o Oceano Índico era um ‘mar fechado’ – e um mesmo Oceano banhava as costas ocidentais da Europa (Portugal e Espanha) e orientais da Ásia (Índia), por isso, Colombo denominou as Antilhas de ‘Índias Ocidentais’. Paradoxalmente, essa foi a maior contribuição de Ptolomeu para a cartografia. Em seu exemplar da Geographia, Cristóvão Colombo vai escrever que a extremidade da Espanha e o início da Índia não estão muito distantes, mas bastante próximos, portanto é possível atravessar este mar em alguns dias, com vento favorável. A redescoberta da Geographia de Ptolomeu no século XV vai impulsionar a reabertura do mundo, ‘a partir dos escombros da construção carolíngia (fechada sobre a sua continentalidade) até a enigmática explosão marítima de finais da Idade Média’. A Geographia de Cláudio Ptolomeu foi uma verdadeira ‘Bíblia’ cartográfica para os navegadores e descobridores renascentistas”.
Sobre este documento
FONTE adaptada: Ana Teresa Pollo Mendonça. “Por mares nunca dantes cartografados: a permanência do imaginário antigo e medieval na cartografia moderna dos descobrimentos marítimos ibéricos em África, Ásia e América através dos oceanos atlânticos e índico nos séculos XV e XVI”. Tese de Doutorado, PUC-Rio, 2007.
http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=10814@1
Ana Teresa Pollo Mendonça