“Apenas chegados ao pôrto de Santos, depois de uma viagem marítima, favorável ou não, mas em todo o caso fatigante e arriscada, os colonos já são, de certo modo, uma propriedade da firma Vergueiro. Esta (…) deverá pagar às respectivas municipalidades a soma proveniente da metade do produto da safra de café plantadas pelos colonos (…) de modo tal a tornar-se imediatamente devedora das mencionadas municipalidades mas ao mesmo tempo credora dos colonos. Se a firma Vergueiro paga às municipalidades as prestações convencionadas não se tire disso a conclusão fácil de que os colonos se acham em excelentes condições e pagam, por sua vez, as dívidas que contraíram. É possível que na Europa se amortizem dívidas de colonos; no Brasil êles acabaram devendo ainda mais do que no momento de assumirem o compromisso.
Os colonos que emigram, recebendo dinheiro adiantado tornam-se, pois, desde o comêço, uma simples propriedade de Vergueiro & Cia. Em virtude do espírito de ganância, para não dizer mais, (…) só lhes resta conformarem-se com a ideia de que são tratados como simples mercadorias, ou como escravos.
(…)
Outras novidades os colonos aprenderão mais tarde quando, após o desembarque, se virem trancados em um pátio enorme, cercado, de um lado pelo pôrto, de outro por muros e casas (…) guardadas por sentinelas armadas, onde vários senhores, entre êles o Sr. Vergueiro, discutem em português-língua desconhecida para os imigrantes. E depois de paga ou bem garantida a dívida dos colonos (…) ouvem êles em bom alemão: – Agora o senhor irá com o sr. X (a pessoa que comprou o colono à firma Vergueiro) para sua colônia Z!.
(…)
O pátio que (…) serviu de albergue noturno (…), embora ofereça pouco agasalho contra o vento e, pelo aspecto das paredes e outros pormenores, lembr[a] muito uma prisão brasileira. No pátio era costume outrora, ao que consta, encerrarem-se e venderem-se os escravos negros logo após sua chegada”. p. 38-9
Sobre este documento
Thomas Davatz. Memórias de um colono no Brasil. São Paulo: EdUSP, 1972 [1858]. p. 1-40.
Thomas Davatz.