“No Brasil dos séculos XVI, XVII e XVIII (…) atividades científicas ou mesmo de difusão das idéias modernas eram praticamente inexistentes. O país tinha uma baixíssima densidade de população letrada, era mantido sob rígido controle e o ensino, quase unicamente elementar, esteve nas mãos únicas dos jesuítas até meados do século XVIII. Mesmo no século XVIII, com a inexistência de imprensa, a proibição de publicação de livros na Colônia e o sistema de ensino deficiente, os poucos indivíduos dos setores sociais dominantes que tiveram acesso aos novos conhecimentos científicos, que estavam sendo gestados na Europa, conseguiram isto geralmente por meio de algum tipo de formação adquirida no exterior. As raras ações do governo português no Brasil, ligadas à ciência, estavam quase sempre restritas a respostas às necessidades técnicas ou militares de interesse imediato: na astronomia, cartografia, geografia, mineração ou na identificação e uso de produtos naturais. (…).
No final do século XVIII e início do século XIX, muitos dos brasileiros que haviam ido para Portugal, França, Bélgica e Escócia freqüentar cursos superiores começaram a retornar ao país e contribuíram para uma difusão lenta das novas concepções científicas.
[Com] a chegada da Corte portuguesa no país, abriram-se os portos e a proibição de imprimir foi suspensa. Pouco depois, surgiram as primeiras instituições de ensino superior ou com algum interesse ligado à ciência e às técnicas como a Academia Real Militar (1810) e o Museu Nacional (1818). Com a criação da Imprensa Régia, em 1810, textos e manuais voltados para a educação científica, embora em número reduzido, começaram a ser publicados ou, pelo menos, difundidos no país. Vários deles eram manuais para o ensino das primeiras academias de engenharia e medicina, em geral traduzidos de autores franceses. Nesse período, os primeiros jornais como A Gazeta do Rio de Janeiro, O Patriota e o Correio Braziliense (editado na Inglaterra) publicaram artigos e notícias relacionados à ciência. Em O Patriota, que duraria apenas dois anos, entre 1813 e 1814, vieram à luz vários artigos de cunho científico ou Divulgativo (…). O número de periódicos gerais cresce lentamente, com alguns poucos, tais como Miscelanea scientifica (1835), Nictheroy (1836) e Minerva brasiliense (1843), publicando também artigos relacionados à ciência.”
Sobre este documento
Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In: Ildeu de Castro Moreira, Luisa Massarani e Fatima Brito (orgs.). Ciência e Público. Caminhos da divulgação científica do Brasil. Casa da Ciência/UFRJ:2002, p.44.
Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani.