Os objetivos deste plano de aula é fazer com que os alunos percebam:
- a complexidade das histórias dos povos indígenas;
- que existiram e existem diversos povos indígenas, e que não foram todos, de imediato, que tiveram contato com os europeus (ou brasileiros, dependendo da época);
- que os indígenas não foram completamente exterminados e/ou "integrados" à sociedade colonial (ou brasileira, também dependendo da época);
- que a história disseminada pela maioria dos materiais didáticos (e até mesmo acadêmicos) parte de uma visão em específico (a dos conquistadores);
- o modo particular como os Yanomami entendem a história (que se difere bastante da visão ocidental, baseada em cronologias e fatos que se desencadeiam de forma linear);
- os Yanomami enquanto sujeitos históricos, opondo-se à ideia de que os indígenas eram (são) agentes passivos que existiram (existem) para satisfazer as vontades dos europeus (brasileiros);
-o estranhamento em relação ao "outro" de forma "invertida", ou seja, o estranhamento, tanto cultural, quanto na aparência física, dos Yanomami em relação aos brancos.
Disponibilização de cópias do texto utilizado nas atividades propostas.
Data show para exibição de mapas, ou cópias dos mapas para cada aluno.
A avaliação deve ser feita pelo professor no decorrer das atividades, levando em consideração a participação e interesse dos alunos, além de perceber o que eles conseguiram desenvolver a partir dos debates e das exposições orais. Ao final, os estudantes devem sistematizar seus pensamentos, como é proposto na última atividade. Esse passo é importante tanto pros alunos, que organizarão de forma coesa as reflexões suscitadas, quanto pros professores, que terão um feedback da aula.
Com o objetivo de iniciar a desconstrução de determinados estereótipos acerca dos povos indígenas, sugere-se que, em sala de aula, seja entregue uma cópia do quadrinho em anexo e peça para que o estudante reflita sobre a mensagem passada.
Realizar uma leitura em conjunto de um trecho do texto "Descobrindo os Brancos" (apenas a parte "Dos espíritos canibais"), de Davi Yanomami.
O texto está disponível tanto em formato impresso, quanto digital (as referências estão presentes na Bibliografia).
Seria interessante que o professor realizasse essa atividade em uma grande roda ou pequenas rodas, dentro da sala de aula ou em outro espaço mais livre, a fim de haver uma melhor integração entre os alunos.
A ideia é que o professor não exponha, de imediato, uma análise pronta e fechada. É importante que os próprios alunos debatam as possibilidades interpretativas e de contextualização do texto. Isso possibilitará que o docente perceba quais são as imagens pré-concebidas que os estudantes têm sobre o assunto, ajudando na ênfase maior ou menor das problematizações que serão levantadas nas próximas atividades.
Assim, após a leitura, o professor deve suscitar um debate com os alunos a partir das seguintes questões norteadoras:
- Sobre o que o texto trata?
- A que lugares geográficos ele se refere?
- Em que época ele foi escrito?
- A que época ele se refere?
- Quem são as pessoas citadas nos textos?
- Quem são os "espíritos canibais"?
- Qual é a imagem que a criança do texto tem dos brancos?
- Qual a ação dos brancos descrita no texto?
- O que aconteceu com os Yanomami (e por que) a partir do contato com os brancos?
Após a discussão que levantará hipóteses sobre o texto, o docente pode partir para uma aula expositiva sobre o assunto, apontando os principais elementos do que foi lido e levantado na discussão. Na exposição, deverão ser abordadas os seguintes aspectos:
- Apresentação do autor do texto (Davi Yanomami - biografia disponível no site da Comissão Pró-Yanomami, conforme link 1).
- Apresentar alguns dados gerais dos Yanomami (presentes no link 2).
- Projetar, no data show (ou imprimir e distribuir) o mapa da terra Yanomami dentro da Amazônia legal (presente no link 3).
- Apresentar breves dados históricos dos Yanomami, antes e após o contato com os brancos (que, no caso dessa etnia, se deu bem depois do que é datado como "período colonial brasileiro"). Essas informações podem ser encontradas no link 4, em anexo.
Todas as referências estão presentes na Bibliografia.
(Observação: Esses dados históricos devem ser apresentados de modo BREVE e resumido, caso contrário, fugirá do objetivo central da aula, ou seja, o modo Yanomami de se ver a História).
Assim, será possível contextualizar melhor sobre o que o texto trata e a que período ele se refere.
Agora que os alunos já possuem um embasamento histórico sobre quem e do que o texto trata, chega o momento da análise sobre como Davi Yanomami enxerga o contato de seu povo com os brancos.
O professor deverá levantar e discutir as seguintes questões com os alunos:
- O modo como o texto é escrito se parece com aqueles que comumente lemos nos materiais didáticos de História?
- Quais são os marcadores de tempo (que indicam passado)?
- Vocês acham que Davi escreveu esse texto pra quem ler?
Nessa discussão, tendo como norte as perguntas acima, é interessante que o docente chame a atenção para o fato de que não há datação como conhecemos na cultura ocidental ("no ano tal aconteceu isso e aquilo"), mas sim expressões indicadoras de tempo que parecem estar ligadas a uma memória coletiva ("há muito tempo, meus avós (...)"/ "eles me contaram isso muitas vezes quando eu era criança (...)"/ etc).
Nesse momento, o professor deverá realizar uma breve aula expositiva apontando os seguintes elementos:
- O fato de que a partir dos anos 1980, sobretudo, o movimento indígena se preocupou em resgatar sua história com dois objetivos: primeiro, para mostrar que o território em que vivem são de fato deles e se há brancos no local é porque houve invasão de terra (no caso dos Yanomami, sobretudo nos anos 1970 para a construção de estradas, e nos anos 1980 pelos garimpeiros); segundo, para repassar suas memórias para as gerações presentes e posteriores. Nesse sentido, é importante apontar o fato de que o texto lido foi, originalmente, escrito na língua Yanomami e traduzido por Bruce Albert.
- Ao ler o texto de Davi Yanomami não devemos somente perceber que ele coloca seu povo como sujeitos históricos, mas também perceber que ele lida com o tempo de modo diferente do nosso (ocidental) - e isso pôde ser percebido a partir da atividade 4. Há uma ligação muito forte com a memória coletiva e com a linguagem mitológica. Sobre o assunto, sugiro que o professor leia, antes de dar essa aula, os seguintes artigos (presentes na bibliografia): "Antes, o mundo não existia" e "Entre memória e história".
Com o objetivo de sistematizar o que foi discutido, sugere-se que os alunos escrevam um pequeno texto partindo das reflexões suscitadas nas atividades.
Seria interessante se esses textos fossem compartilhados entre os próprios alunos, fazendo com que eles percebam pontos de vistas diferentes.