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10ª questão

A seguir há um pequeno trecho do romance Vidas Secas (1937-1938), de Graciliano Ramos. Após lê-lo atentamente, e refletir sobre a obra, assinale a alternativa que julgar a melhor.

“(...) Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice.(...)"

Vidas SecasLiteratura
 

Alternativas

A. No romance Vidas Secas, Graciliano Ramos retrata a miséria do sertão focado numa família de retirantes que vive em constante deslocamento e opressão.
B. O pensamento de Sinhá Vitória em querer uma cama ‘de verdade’ traz a simbologia do desejo de fincar raízes, estabelecer um lugar de morada, contrário à vida de retirantes que perambulam pelo sertão.
C. A obra Vidas Secas de Graciliano Ramos reflete o engajamento do autor e sua denúncia social.
D. As décadas de 1930 e 1940 no Brasil foram marcadas por grandes secas no nordeste, retratadas na literatura regionalista, e levaram o presidente Vargas a criar a SUDENE em 1948.



 

Comentário

Vidas Secas é um clássico da literatura brasileira que muito pode enriquecer o estudo das ciências humanas nas escolas. Graciliano Ramos, recém liberto da prisão por suas convicções comunistas, relata-nos e denuncia o ambiente de miséria do sertão nordestino. Sua escrita engenhosa e milimétrica é proposital, na medida em que representa a circularidade de dois pontos: o primeiro, a desgraça da seca que se repete todos os anos; o segundo, uma espécie de ‘pobreza hereditária’, esta que não propicia nenhuma possibilidade de mobilidade social no Brasil daquele momento. Desta forma, o pensamento fatalista de Fabiano e sua família vai ao encontro do contexto social brasileiro, pois, num exercício de lógica, se há uma pobreza hereditária, circular e infinita, é porque há também a hereditariedade na posse da terra, sendo o poder exercido sempre pelas mesmas famílias da aristocracia rural, detentoras do latifúndio. Veem-se, os sertanejos, assim, desumanizados sob dois aspectos também: o primeiro porque animais são aptos para a brutalidade iminente que a vida os reserva; o segundo é a opressora postura subalterna que devem ter para que não sofram mais humilhação do que sua própria condição de vida.

Especificamente sobre o trecho citado na questão, pode-se entender, por todo este cenário apresentado por Graciliano Ramos, que o desejo de Sinhá Vitória em ter uma cama, passando pela simbologia de ter uma morada estabelecida e solidificada, é um sonho, uma quimera, tal qual seria se pensasse em não serem uma família de retirantes miseráveis.

Na década de 1930, portanto, temos o que é conhecido na Literatura como Romance Regionalista, na segunda fase do Modernismo. Este momento literário retrará, em forma de prosa, de interesses da nação – ou que pelo menos deveria ser –, como a concentração de terra que só faz agravar a desolação do ciclo da seca. Graciliano Ramos é um expoente desse momento histórico-literário, sobretudo por sua escrita mordaz que evidencia seu posicionamento político em relação ao problema das desigualdades sociais no Brasil.