Em sua edição de fevereiro de 1893 a Revista Illustrada publicou em sua capa uma imagem e texto em referência à demolição do maior cortiço do Rio de Janeiro – localizado na Rua Barão de São Felix n° 154 -, no dia 26 de janeiro.
Interpretando a imagem, os versos e recorrendo a seus conhecimentos sobre a destruição do cortiço Cabeça de Porco escolha uma das alternativas:
Alternativas
Comentário
No dia 26 de janeiro de 1893, as tropas policiais impediram o acesso ao Cabeça de Porco e a mando do então prefeito Barata Ribeiro teve início a demolição do maior e mais célebre cortiço da cidade. A destruição da estalagem mobilizou cerca de 150 trabalhadores e foi assistida por várias autoridades e por grande número de populares. Tamanha mobilização chamou grande atenção da imprensa no período, que de forma geral louvava a decisão e a maneira como Barata Ribeiro lidou com o caso, dentre tantas reportagens, charges e crônicas produzidas no período encontramos o documento em discussão em nossa questão. Segundo Sidney Chalhoub “As repercussões da destruição do famoso cortiço na grande imprensa do período foram um espetáculo à parte. Na Revista Illustrada, o evento foi saudado com um humor asqueroso: o leitor foi servido de um prato com uma enorme cabeça de porco, de olhos entreabertos e fisionomia lacrimejante, sobre a qual se achava uma barata devidamente cascuda e repugnante.” A imagem e os versos que a acompanham, identificam as personagens dos acontecimentos, assim como as relações de forças desiguais entre a administração pública aliada às elites do período e a população mais pobre, que vivia aos milhares em habitações como o Cabeça de Porco. Nessas tensas relações a minoria – representada pelo prefeito Barata Ribeiro e seu contingente policial – sai vencedora frente à maioria, que embora fosse constantemente temida e considerada violenta não reagiu à perda de sua moradia. A demolição do Cabeça de Porco, que segundo a historiografia chegou a abrigar entre 2 mil e 4 mil pessoas, foi feita após a interdição de parte da estalagem e de um mandato para o esvaziamento do local, mas não houve nenhuma providência para a reacomodação de seus moradores, assim como não eliminou a existência de moradias similares na região central da cidade. Assim, a violência ocorre não em forma de enfrentamento, mas na perda da moradia e na falta de um planejamento para alojar as centenas de famílias que foram obrigadas a deixar o local e a encontrar novas acomodações. Ainda segundo Chalhoub, “O que mais impressiona no episódio do Cabeça de Porco é a sua torturante contemporaneidade. Intervenções violentas das autoridades constituídas no cotidiano dos habitantes da cidade, sob todas as alegações possíveis e imagináveis, são hoje um lugar-comum nos grandes centros urbanos brasileiros. Mas absolutamente não foi sempre assim, e essa tradição foi algum dia inventada, ela também tem a sua história. O episódio do Cabeça de Porco se tornou num dos marcos iniciais, num dos mitos de origem mesmo, de toda uma forma de conceber a gestão das diferenças sociais na cidade (…)” [Sidney Chalhoub. Cidade Febril: Cortiços e Epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, pp. 17-19]