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“Ainda no século XVIII, o fandango aportou no litoral paranaense, assim como em muitas partes do Brasil, por mãos e pés de colonos portugueses. Danças ritmadas com fortes batidas dos pés eram suas características mais marcantes.
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Os preparativos iniciais incluíam o convite, feito normalmente pelo ‘fandangueiro’ ou por alguém de sua família, e a obtenção da licença com o inspetor de quarteirão. (…) O organizador da festa também precisava comprar uma boa quantidade de velas e, sobretudo, de bebidas. A arrumação e a limpeza do terreiro e da casa e a presença de tocadores de música animados e dispostos a varar a noite complementavam os requisitos necessários a um bom armador de fandango.
(…)O consumo de aguardente, aliás, era o estopim de muitas brigas, inclusive entre indivíduos que sequer se conheciam. Foi o que ocorreu em 1858, na Barra do Sul, quando Francisco Barcellos e Caetano José se desafiaram no interior de um fandango e brigaram na praia, às quatro horas da madrugada. Francisco declarou ao juiz que o motivo de toda a confusão foi o excesso de bebida, fato que ‘muitas vezes ocorre nessas funções’. Noutra festa, em Guaratuba, a embriaguez também propiciou o conflito iniciado com a agressão verbal sofrida pelo oficial de sapateiro José Moreira – chamado de ‘bugre’, ele partiu para cima do ofensor. Caiu com ele por terra, e na confusão ainda recebeu da costureira Adriana ‘uma grande pancada na testa com um tamanco’.
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Por essas e outras, os fandangos viraram motivo de preocupação para as autoridades. Regados a cachaça, reunindo negros e analfabetos em encontros que varavam a noite e acabavam na delegacia, não eram eventos bem-vistos pelas elites dirigentes. Elas, além de condenarem a festa em função das questões morais relacionadas à lascívia dos participantes, demonstravam preocupação quanto à capacidade produtiva dos pobres, ameaçada pelos excessos festivos.
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E os fandangos ainda resistem no litoral do Paraná. Em algumas comunidades, jovens fandangueiros aprendem com antigos mestres marcadores o poder dos tamancos e continuam fazendo ali um barulhinho bom.”
Sobre este documento
José Augusto Leandro. “Barulhinho Bom”. Revista de História Biblioteca Nacional, outubro de 2008.
José Augusto Leandro