]7ª ONHB – Olimpíada Nacional em História do Brasil

Negro Drama (2002)
Letra de Música

“Negro drama
Entre o sucesso e a lama
Dinheiro, problemas
Inveja, luxo, fama

Negro drama
Cabelo crespo
E a pele escura
A ferida, a chaga
À procura da cura

Negro drama
Tenta ver
E não vê nada
A não ser uma estrela
Longe, meio ofuscada

Sente o drama
O preço, a cobrança
No amor, no ódio
A insana vingança

Negro drama
Eu sei quem trama
E quem tá comigo
O trauma que eu carrego
Pra não ser mais um preto fodido

O drama da cadeia e favela
Túmulo, sangue
Sirene, choros e vela

Passageiro do Brasil
São Paulo
Agonia que sobrevivem
Em meia às zorras e covardias
Periferias, vielas e cortiços

Você deve tá pensando
O que você tem a ver com isso
Desde o início
Por ouro e prata

Olha quem morre
Então veja você quem mata
Recebe o mérito, a farda
Que pratica o mal

Me ver
Pobre, preso ou morto
Já é cultural

Histórias, registros
Escritos
Não é conto
Nem fábula
Lenda ou mito

Não foi sempre dito
Que preto não tem vez
Então olha o castelo e não
Foi você quem fez cuzão

Eu sou irmão
Dos meus trutas de batalha
Eu era a carne
Agora sou a própria navalha

Tim… tim
Um brinde pra mim
Sou exemplo de vitórias
Trajetos e glórias

O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar
De dentro dele
A favela

São poucos
Que entram em campo pra vencer
A alma guarda
O que a mente tenta esquecer

Olho pra trás
Vejo a estrada que eu trilhei
Mó cota
Quem teve lado a lado
E quem só fico na bota
Entre as frases
Fases e várias etapas
Do quem é quem
Dos mano e das mina fraca

Negro drama de estilo
Pra ser
E se for
Tem que ser
Se temer é milho

Entre o gatilho e a tempestade
Sempre a provar
Que sou homem e não covarde

Que Deus me guarde
Pois eu sei
Que ele não é neutro
Vigia os rico
Mas ama os que vem do gueto

Eu visto preto
Por dentro e por fora
Guerreiro
Poeta entre o tempo e a memória

Hora
Nessa história
Vejo o dólar
E vários quilates
Falo pro mano
Que não morra, e também não mate

O tic tac
Não espera veja o ponteiro
Essa estrada é venenosa
E cheia de morteiro
Pesadelo
Hum

É um elogio
Pra quem vive na guerra
A paz nunca existiu
Num clima quente
A minha gente soa frio
Vi um pretinho
Seu caderno era um fuzil

Um fuzil
Negro drama

Crime, futebol, música, caraio
Eu também não consegui fugi disso aí
Eu só mais um.
Forrest Gump é mato
Eu prefiro conta uma história real

Vô conta a minha

Daria um filme
Uma negra
E uma criança nos braços
Solitária na floresta
De concreto e aço

Veja
Olha outra vez
O rosto na multidão
A multidão é um monstro

Sem rosto e coração

Hey
São Paulo
Terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne
É a torre de babel

Família brasileira
Dois contra o mundo
Mãe solteira
De um promissor
Vagabundo

Luz
Câmera e ação

Gravando a cena vai
Um bastardo
Mais um filho pardo
Sem pai

Ei
Senhor de engenho
Eu sei
Bem quem você é
Sozinho, cê num guenta
Sozinho
Cê num entra a pé

Cê disse que era bom
E a favela ouviu, lá
Também tem
Whisky, Red Bull
Tênis nike e fuzil

Admito
Seus carro é bonito
É
Eu não sei fazê
Internet, video-cassete
Os carro loco

Atrasado
Eu tô um pouco sim

Eu acho

Só que tem que

Seu jogo é sujo
E eu não me encaixo
Eu sô problema de montão
De carnaval a carnaval
Eu vim da selva
Sou leão
Sou demais pro seu quintal

Problema com escola
Eu tenho mil
Mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês
Ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria
Gíria não, dialeto

Esse não é mais seu

Subiu
Entrei pelo seu rádio
Tomei
Cê nem viu
Nós é isso ou aquilo

O quê?
Cê não dizia
Seu filho quer ser preto
Rhá
Que ironia

Cola o pôster do 2Pac aí
Que tal
Que cê diz
Sente o negro drama
Vai
Tenta ser feliz

Ei bacana
Quem te fez tão bom assim
O que cê deu
O que cê faz
O que cê fez por mim?

Eu recebi seu tic
Quer dizer kit
De esgoto a céu aberto
E parede madeirite

De vergonha eu não morri
To firmão
Eis-me aqui

Você não
Se Cê não passa
Quando o mar vermelho abrir

Eu sou o mano
Homem duro
Do gueto, Brown

Obá

Aquele louco
Que não pode errar
Aquele que você odeia
Amar nesse instante
Pele parda
Ouço funk

E de onde vem
Os diamantes
Da lama

Valeu mãe

Negro drama
Drama, drama

Aê, na época dos barracos de pau lá na pedreira onde vocês tavam?
O que vocês deram por mim?
O que vocês fizeram por mim?
Agora tá de olho no dinheiro que eu ganho
Agora tá de olho no carro que eu dirijo
Demorou, eu quero é mais
Eu quero até sua alma
Aí, o rap fez eu ser o que sou

Ice Blue, Edy Rock e Klj, e toda a família
E toda geração que faz o rap
A geração que revolucionou
A geração que vai revolucionar
Anos 90, século 21
É desse jeito
Aê, você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você, morou irmão?
Você tá dirigindo um carro
O mundo todo tá de olho em você, morou?
Sabe por quê?
Pela sua origem, morou irmão?
É desse jeito que você vive
É o negro drama
Eu não li, eu não assisti
Eu vivo o negro drama, eu sou o negro drama
Eu sou o fruto do negro drama
Aí dona Ana, sem palavras, a senhora é uma rainha, rainha
Mas aê, se tiver que voltar pra favela
Eu vou voltar de cabeça erguida
Porque assim é que é
Renascendo das cinzas
Firme e forte, guerreiro de fé
Vagabundo nato!”

Sobre este documento

Título
Negro Drama (2002)
Tipo de documento
Letra de Música
Palavras-chave
História da Música São Paulo Racismo
Origem

Racionais Mc’s – Negro Drama (2002)
Mano Brown / Edi Rock
Álbum: Nada como um dia após o outro

Créditos

Mano Brown e Edi Rock

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