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Uma cerimônia realizada nesta terça-feira (25), em Manaus, serviu como uma reparação histórica: um pedido de desculpas por injustiças de 70 anos (…) contra imigrantes.
Tambores tradicionais japoneses na Assembleia Legislativa. É o resgate de parte de uma história quase esquecida. Em 1931, imigrantes do Japão fundaram, no meio da floresta, um lugar chamado Vila Amazônia. Eles conseguiram adaptar a juta ao solo da região. A fibra natural asiática era fundamental para a economia brasileira porque dela são feitos sacos para exportação do café. O projeto agrícola deu tão certo que, em poucos anos, o Brasil deixou de importar juta da Índia. Mas com a Segunda Guerra Mundial na década de 40, os imigrantes foram perseguidos.
‘Eles abriram galerias para formar o esgoto da vila, e o pessoal começou a dizer que eles estavam cavando para guardar armas. Outros iam além: diziam que estavam cavando um buraco para chegar ao Japão’, conta o geógrafo Camilo Ramos.
Quando os japoneses foram declarados inimigos, as terras, indústrias de beneficiamento da juta, a companhia de exportação, tudo foi confiscado pelo governo. Os imigrantes que permaneceram na Vila Amazônia foram presos e depois levados ao estado do Pará, onde ficaram confinados em um lugar chamado “Acara”. Para os japoneses e descendentes era um campo de concentração em plena Floresta Amazônica.
O engenheiro Yosiyuki Miyakei, com sete anos na época, diz que os pais tiveram que fazer trabalho forçado. ‘Meus pais foram forçados pela administração da época a construir estradas’.
Seu Shoji fugiu para a floresta para não ser preso. Quando voltou para a cidade, foi açoitado.
‘O soldado disse: traz aquele japonesinho. Eu fui lá e ele começou a me bater com couro de peixe-boi’, contou o aposentado Zennoshin Shoji.
Hoje com 96 anos, Seu Shoji recebeu título de Cidadão do Amazonas. Apenas 3 dos 249 imigrantes da Vila Amazônia ainda estão vivos. Viúvas e descendentes ouviram do governo do Amazonas o pedido formal de desculpas pelas agressões e calúnias durante a Segunda Guerra Mundial. ‘Para nós é como se tivéssemos conseguido lavar a honra de nossos pais. Agora a gente pode dizer: descansem em paz’, diz Valdir Sató, da Associação Koutaku do Amazonas.
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