“À introdução do cinismo e da mentira como recursos de dominação política, cingem-se num mesmo plano a censura, a delação, a tortura. Projeta-se para a sociedade, através dos meios de comunicação, uma só imagem de si mesma, imersa num mundo de ficção, a competir com o mundo de sua realidade. […] Vargas, em inúmeras oportunidades, chamou a atenção para o papel da imprensa, em particular, e dos meios de comunicação em geral como dispositivos de controle e mudança da opinião pública. O ofício do jornalismo era por ele chamado de ‘sacerdócio cívico’. Atribuía aos jornalistas grande importância na formação da opinião pública ‘… para que ela seja, de corpo e alma, um só pensamento brasileiro’. Por sua vez, Francisco Campos não deixou escapar seu fascínio pelos meios de comunicação como dispositivos de estímulo e captura dos desejos sociais, tomando mesmo o nazismo como seu paradigma:
‘É possível hoje, com effeito, e é o que acontece, transformar a tranquilla opinião pública do século passado em um estado de delírio ou de allucinação collectiva, mediante os instrumentos de propagação, de intensificação e de contágio de emoções, tornados possíveis precisamente graças ao progresso que nos deu a imprensa de grande tiragem, a radiofusão, o cinema, os recentes processos de comunicação que conferem ao homem um dom approximado ao da ubiquidade ’.”
Glossário
Ubiquidade: estado do que se acha em todos os lugares; faculdade de se achar ao mesmo tempo em todos os lugares; multipresença; onipresença.
AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/
Sobre este documento
Alcir Lenharo. A Sacralização da Política. Campinas, SP: Papirus: Editora da Unicamp, 1986.
Alcir Lenharo
O historiador Alcir Lenharo (1946-1996) formou-se da USP e atuou junto ao Departamento de História da UNICAMP até seu falecimento prematuro em 7 de julho de 1996.