Descolonizar através de imagens o imaginário acerca dos povos indígenas para a visibilidade do índio no presente;
Construir um museu do encontro para a educação, reconhecimento e respeito aos povos indígenas do Amapá e Norte do Pará;
Valorizar da diversidade para a construção de relações humanísticas entre índios e não-índios.
Como atividade anterior a construção do Museu os alunos farão uma investigação fotográfica pela cidade para a captura de imagens relacionadas à temática. Catalogação das Imagens. Para a construção do Museu serão catalogadas as imagens escolhidas para compor a exposição e constituir uma cultura visual interétnica entre índios e não-índios. Celular e impressão das fotos e Imagens.
O processo avaliativo será auferido pela produção dos alunos. Primeiramente, pelo trabalho de pesquisa desenvolvido pelos grupos. Deverá constar a multiplicidade de fontes históricas e tipos de investigação, como pesquisa de campo (Institutos de pesquisa indígena em Macapá, como o Iepé); bibliográfica, entrevistas com índios que vivem no entorno da escola, e não índios sobre a percepção destes sobre os índios; pesquisa em jornais; construção do acervo visual; conhecimento obtido a partir da Oficina de Grafismo Indígena Tiriyó; a relação entre presente e passado e a criatividade dos alunos.
Os alunos serão questionados quanto ao uso de bens materiais e/ou culturais estrangeiros. A partir da exposição, serão trabalhadas imagens que permitirão aos alunos reconhecerem a permanência das dinâmicas de trocas culturais através dos tempos. Sobretudo, alertá-los que diferentes povos a partir da globalização realizam processos de fusão, trocas, intercâmbios, mas permanecem com suas identidades características. Para que possam compreender por meio da análise interdisciplinar proposta pela cultura visual, por questões sociológicas como o estigma aos povos indígenas e a apropriação cultural (o recurso visual de número 1 será um vídeo no You Tube que possibilita problematizar a questão do estigma dos povos indígenas na atualidade pelos não-índios, a escolha do vídeo pela linguagem acessível e inserida no universo cultural dos alunos, assim como constituinte do visual na era da reprodutibilidade técnica, quanto ao preconceito aos índios, esse será compreendido a partir dos pressupostos do estigma de Erving Goffman).
A colonização do Imaginário a partir das imagens produzidas pelos europeus, a partir do etnocentrismo, especialmente no que refere-se a difusão de estereótipos do bárbaro e demoníaco pautados no universo cultural ocidental, associados aos interesses da colonização no novo mundo. Os recursos visuais trabalhados serão de Alberto Eckhout – que representa a mulher tapuia como uma alegoria da selvageria e do canibalismo – e de Theodor de Bry que índias ingerem partes do inimigo. Em contraponto será utilizada a tela Tiradentes Esquartejado de Pedro Américo, sobre a relativização da barbárie e/selvageria entre os índios e a coroa portuguesa, entre o canibalismo e a punição por crimes de lesa majestade. Ainda sobre esse tópico serão apresentadas imagens da resistência e luta dos povos indígenas pelos seus direitos, através de imagens dos povos indígenas do Amapá em reuniões, intercâmbios, encontros e consultas privadas.
E trabalhar com a alteridade pela relação imagética, como a relação do consumo do açaí (do tradicional indígena a globalização como uma superfruta – visualizado por imagens do produto comercializados nos EUA, que já conta com uma indústria de processamento do fruto na região de Macapá, a Sambazon), e da Culinária indígena e seu alto consumo pela população de Macapá. Quanto a temática os alunos apresentarão seu próprio material fotográfico, realizado anteriormente afim de conhecer a cidade pelo olhar dos alunos, para que estes percebam as permanências culturais dos povos indígenas na atualidade e presentes no universo cultural dos mesmos. As imagens da atualidade serão compostas pelos pontos de venda comercialização de açaí –as batedeiras – reconhecidas pelas emblemáticas bandeirinhas vermelhas, que indicam os pontos de venda da fruta “batida”; imagens da comercialização da farinha de mandioca e tapioca tanto em feiras populares quanto em outros ambientes como shopping centers, sendo importante destacar a tapioca como alimento coqueluche da atualidade. Em diálogo com as imagens do presente serão trabalhadas telas que formam um documento visual do ethos amazônico, a representação do povo na arte. As telas são: Amassadeira de Açaí e Vendedora de Tacacá de Adrelino Cotta; A Tacacazeiza de Antonieta Santos Feio; Imagens antigas de tacacazeiras conhecidas em Macapá como Tia Neném; quanto ao encontro com os artefatos indígenas serão expostas tanto fotos desses bens culturais relacionados com a culinária indígena, assim como suas dimensões míticas e metafísicas, como cuias e tipitis – artefato de para o processamento de mandioca.
Os saberes tradicionais indígenas – o curandeirismo – nesse caso, serão representadas imagens do povo Wajãpi e suas práticas de cura, associando com a grande procura de fitoterápicos pela população de Macapá na farmácia do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), que comercializa produtos da fauna amazônica. Ainda quanto a questão dos saberes tradicionais, se abordará as parteiras indígenas do Amapá, e a institucionalização de projetos voltados para instrumentalização de parteiras no Estado, prática muito procurada e realizada no Amapá, e diálogo com o parto humanizado tão em voga e propagado por artistas e em várias partes do mundo.
Os hábitos de higiene dos povos do norte (costume de tomar vários banhos diários), essa temática abordará a relação do homem amazônico com a água, através de imagens capturadas pelos alunos, como o costumeiro banho de rio da população nas águas do Rio Amazonas, e em diversos balneários – locais recreativos com rios, e igarapés – e imagens de índios nos rios, assim como relativizar a cultura da higiene de outros povos. Ainda, sobre a relação entre homem e natureza, nesse caso os índios com a domesticação dos animais, sendo estes partes integrantes da família os "xerimbabo" que significa "coisa muito querida" merecendo os animais o mesmo tipo de tratamento dos humanos, serão trabalhadas imagens icônicas de índias amamentados pequenos mamíferos e o que no hodierno se observa pela criação como "filhos" dos animais de estimação, apresentando dados de animais domésticos, e uma pesquisa pela rede social Instagram e Facebook de perfis de animais de estimação e o tratamento concedido a estes pelos homens.
E a relação entre as marcas corporais e as tatuagens, especialmente no caso do grafismo e perfuração característicos dos povos indígenas em questão. Quanto a arte corporal de índios e não-índios será trabalhada a partir de uma ida prévia a um estúdio de tatuagem para pesquisa sobre a técnica utilizada e os múltiplos significados atribuídos as tatuagens, assim como exposição visual composta por fotos dos próprios alunos que apresentam tatuagens, piercings e alargadores ao encontro da arte indígena que será observada por imagens antigas como a pintura de Hercule Florence Maloca dos Apiaká no Rio Arinos, a tela Tatuagem do pintor amazonense Manoel Santiago, e imagens sobre o grafismo Tiriyó e wajãpi e as perfurações do povo Zo’é.
E pela presença de índias Triyó-Katxwyama na referida turma, apresentação fotográfica desse povo indígena no passado, presente, na aldeia e na sala de aula, uma vez que a maioria dos povos indígenas do Amapá não permite a entrada de professores não-índios nas suas aldeias, ocasionando a saída dos índios para a cidade de Macapá para a educação e posterior retorno a aldeia. Assim como será realizada uma oficina de grafismo Tiriyó.