Que os estudantes sejam capazes de realizar uma comparação historicamente embasada entre duas representações da I Guerra Mundial - uma majoritariamente visual e a outra majoritariamente escrita.
Tal comparação deve realizar-se sem se tornar uma busca por qual representação seria a mais apurada ou correta. Pelo contrário, a disparidade entre ambas deve ser trabalhada pelos estudantes para que eles possam compreender a I Guerra Mundial como um fenômeno/evento histórico complexo.
Assim, enquanto explicam a sua interpretação comparativa das duas representações, eles devem necessariamente passar pela compreensão dos interesses e envolvimento dos diferentes agentes participantes no conflito. Não apenas concentrando-se nas grandes potências - jogadoras de um jogo imperialista global - mas também nos homens e nas mulheres comuns que tiveram as suas vidas radicalmente marcadas pela Grande Guerra.
Sendo assim, os estudantes precisam ainda observar e refletir por que dentre estes últimos ter existido pessoas favoráveis e contrárias à guerra. E em última instância, como a mesma foi produto das transformações recentes pelas quais passávamos no começo do século XX. E como, ao mesmo tempo, a I Guerra Mundial foi transformadora da humanidade, mudando não apenas a maneira de se fazer uma guerra, mas também a nossa forma de viver em paz posteriormente.
Requisitos: aula expositiva anterior ou leitura prévia das páginas dos livros didáticos sobre I Guerra Mundial.
Materiais: o filme Nada de Novo no Front (All Quiet on the Western Front, Delbert Mann, 1979), livros didáticos de História; computador; Data show; Caixas de Som; Tela de Projeção; Fichas técnicas impressas do filme.
Durante a atividade oral (debate), os estudantes deverão ser capazes de identificar as concordâncias e discordâncias entre as cenas selecionadas e as informações da aula expositiva prévia e/ou dos livros didáticos.
Geralmente, a lista que segue será adequada para a maioria dos casos, mas de acordo com os livros didáticos usados, podem ocorrer variações. O(a) docente deve certificar-se de verificar.
Pontos concordantes: nacionalismo como base ideológica e propaganda de guerra; guerra de trincheiras; as atividades cotidianas no front; perdas humanas maiores entre os alemães; e o uso da tecnologia da Revolução Industrial na guerra.
Pontos discordantes: a Alemanha não aparece como culpada pela guerra e os alemães também são mostrados como vítimas do horror da mesma; o envolvimento das mulheres na I Guerra Mundial; e a participação dos EUA e da Rússia.
Os pontos concordantes estão bem evidentes nas cenas selecionadas para a exibição. E os assuntos que abordam, ao menos aparecem superficialmente em grande parte dos livros didáticos. Em relação as discordâncias é preciso frisar que elas se tratam em grande parte de ausências em toda a película. Tais lacunas podem ser verificadas ora apenas no filme, ora nos livros didáticos também. A exceção é o envolvimento das mulheres na I Guerra Mundial. Existem raras aparições de mulheres em tela, porém não se aprofundam questões sobre a prostituição próxima aos combatentes. Ou ainda nada se fala do papel das mulheres em suas vidas cotidianas durante o conflito e da sua colaboração para o esforço de guerra como mão-de-obra.
Ao final da lição de casa, os grupos formados pelos estudantes deverão apresentar por escrito hipóteses coerentes que expliquem as concordâncias e divergências. As explicações devem se ancorar em citações das cenas e das páginas dos livros didáticos. E podem e devem se valer de argumentos que incluam a produção, a circulação, a mídia de exibição e a recepção da crítica e do público alvo do filme - ou até as nuances específicas do discurso fílmico e da redação de um livro didático.
Devido ao ano escolar, os estudantes não devem ser tão exigidos quanto a utilizar vários argumentos para explicar um único ponto. Porém, eles devem ser cobrados quanto a enunciação de uma hipótese provida de uma explicação, portanto devem estar cientes deste critério avaliativo.
Os 10 primeiros minutos da aula devem ser reservados para uma introdução realizada por meio de uma exposição oral por parte do professor.
Esta deve começar pela explicação da dinâmica e do objetivo da aula. Em seguida, o(a) professor(a) deve fazer uma brevíssima rememoração do que já foi estudado sobre a I Guerra Mundial (para que os estudantes observem as cenas mais atenciosamente). Estima-se que até aqui tenham sido usados 3 dos 10 minutos. No tempo restante, a ficha técnica do filme deve ser projetada e usada como base para comentários sobre: a produção, a circulação, a mídia de exibição e a recepção da crítica e do público alvo do filme, as principais nuances específicas de um discurso literário, do discurso fílmico e da redação de um livro didático.
Como se trata de uma introdução, estas questões não precisam e nem devem ser encerradas agora. Contudo alguns pontos em especial podem ser destacados, isto é:
* O filme ser baseado em outra obra, um livro que é inspirado nas experiências pessoais do autor durante a I Guerra Mundial, apesar de contar a história de um protagonista fictício.
* A versão anterior do filme ter recebido o Oscar de melhor filme, mostrando que esta série de representações da guerra teve uma circulação ampla e reconhecida;
* O que acontecia na geopolítica global no ano de produção do filme (1979), ou seja, a Guerra Fria e o medo de mais uma Guerra Mundial;
* E uma sinopse mais longa do filme, tendo em vista que serão exibidas apenas cenas, facilitando o entendimento das mesmas.
Como o filme Nada de Novo no Front (de 1979) possui uma narrativa não-linear e episódica, optar pela seleção de algumas cenas para a exibição, no lugar de exibi-lo na íntegra, não compromete o entendimento da narrativa ou da mensagem sobre a I Guerra Mundial que a obra deseja comunicar aos seus espectadores. Mesmo assim, faço a recomendação de que em nenhuma circunstância a aula seja posta em prática sem que o(a) Professor(a) tenha assistido ao filme completo previamente.
Para não se perder o controle do tempo, seria proveitoso ainda pedir para que os estudantes anotem suas dúvidas e as reservem para as próximas atividades que seguem.
Segue a lista das cenas a serem exibidas para a turma:
* A cena de combate nas trincheiras e a do discurso nacionalista do professor, ambas no começo do filme = 00:00:00 - 00:11:55.
* A cena do embarque no trem pra ir ao front = 00:32:49-00:34:46.
*A cena sobre a vida no front = 00:40:17-00:45:14.
* A cena da noite com o inimigo = 00:58:18-01:08:31
* O discurso do Kaiser Guilherme II e a cena com as meninas francesas. Professor(a) lembre-se de mencionar que o discursante é o Kaiser e que há cenas breves de mães doentes ou de luto e que isto é tudo sobre as mulheres no filme. = 01:11:16 - 01:20:15.
* Comentários sobre a guerra em uma mesa de bar = 01:38:19-01:39:33.
* A cena das últimas palavras de Paul Balmer = 01:57:22-02:01:21
A versão de 1979 é um pouco mais difícil de encontrar do que a de 1930, mas considero que ela possui duas grandes vantagens em relação a sua antecessora. Primeiramente, ela está colorizada o que permite uma melhor aceitação de um público jovem acostumado com efeitos especiais e computação gráfica. Em segundo lugar, a velocidade das legendas é menor, permitindo que os estudantes consigam acompanhá-las.
A turma deve ser dividida em grupos de 4-6 estudantes (de acordo com a quantidade de pessoas em sala), refletir sobre as cenas assistidas e buscar nos livros didáticos as concordâncias e divergências. Nesse primeiro momento, trata-se apenas de uma primeira comparação entre os dois discursos produtores de uma representação histórica, o filme e os livros usados no cotidiano escolar. Lembrando que não é apenas uma comparação entre cinema e texto, as imagens presentes no livro didático também podem ser problematizadas.
Portanto, o(a) professor(a) deve supervisionar esta atividade, indo de grupo em grupo verificar se não houve nenhuma má compreensão ou dúvida sobre o que foi assistido. O mesmo vale para o que estará sendo lido neste momento. Ainda é importante estimular que o grupo discuta entre si tudo que poderia ser percebido, em uma espécie de brainstorm.
Se julgado necessário, pode ser informada uma estimativa de quantos pontos de cada tipo podem ser identificados, com o objetivo de manter os estudantes mais engajados na tarefa.
O fruto desta etapa deverá ser listado em uma folha de caderno com o nome dos integrantes de cada grupo e entregue ao professor ao final do tempo estabelecido.
Nesta etapa, o professor deverá iniciar e mediar um debate entre toda a turma sobre o filme, partindo das listas feitas por cada grupo anteriormente. (Para melhor acompanhamento, estas listas poderão ser escritas no quadro).
Este é um momento de produção coletiva de conhecimento. É importante que os alunos falem enquanto grupo, e individualmente, sobre como se aperceberam do que foi listado ou das impressões que tiveram das cenas assistidas.
É importante que o(a) Professor(a) responda a todos os questionamentos dos estudantes em dúvida que os colegas não consigam esclarecer. Mas muito mais importante é deixar bem claro que a atividade não se trata de descobrir qual está certo, se é o filme ou o livro didático. Trata-se sim de buscar um entendimento de como dois discursos distintos sobre o passado produzem sentidos sobre a I Guerra Mundial, bem como estes convergem ou divergem. E mais ainda: quais seriam as razões destas oscilações.
Ao fim desta etapa, as listas serão devolvidas para os respectivos grupos que as elaboraram, juntamente com uma folha onde está impresso a ficha técnica do filme e a atividade de avaliação para casa.
A atividade é auto-explicativa e de fácil assimilação para aqueles que estavam presentes na aula. Não há necessidade de maiores instruções. A única coisa necessária é se certificar de que todos compreenderam o que deve ser feito.