“Ao se estudar a história dos grupos estigmatizados, torna-se imprescindível o estudo daqueles que, por uma razão qualquer, foram tidos como ‘leprosos’ e, portanto, como tal, sofreram medidas de exclusão. A trajetória dessa moléstia permite verificar que parte da visão medieval acerca da doença e de seu portador conseguiu chegar até nosso século e que, malgrado o avanço da ciência, medidas de exclusão continuaram a ser praticadas em nome da defesa do bem estar da coletividade. Mesmo após a descoberta de uma terapêutica eficaz contra a doença, medidas de exceção, segregação e violência continuaram a ser praticadas contra o doente, e estas também alcançaram seus familiares (…) No Brasil (…) a prática profilática adotada foi a do isolamento compulsório, o que contribuiu para alicerçar na população conceitos errôneos já existentes sobre a doença. Essa prática permitiu que o estigma da hanseníase atingisse pessoas que nunca portaram a doença, como foi o caso das crianças sadias filhas de hansenianos, que acabaram por se tornar portadoras de um ‘estigma congênito’ que as acompanharia por toda a vida, diminuindo suas possibilidades de vida e obrigando-as a esconder sua situação, de internas ou egressas de Preventório, se quisessem competir em igualdade de condições quando da procura de emprego ou no estabelecimento de relações sociais.”
Sobre este documento
Yara Nogueira Monteiro. “Violência e profilaxia: os preventórios paulistas para filhos de portadores de hanseníase.” Saúde e Sociedade 7 (1) 1998. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v7n1/02.pdf
Yara Nogueira Monteiro