]
“A língua de que usam toda pela costa é uma (...)"
"Em toda esta provincia ha muitas e varias nações de diferentes linguas, porém uma é a principal, que comprehende algumas dez nações de Índios(...)"
(...) 6. Sempre foi maxima inalteravelmente praticada em todas as Nações, que conquistárão novos Dominios (...)"
Com base documentos apresentados, é possível concluir que:
Alternativas
Comentário
Os três documentos apresentados expressam como, em diferentes momentos da colonização portuguesa na América, a imposição da língua lusitana foi uma preocupação relacionada à manutenção do domínio de Portugal sobre suas possessões tropicais.
Os documentos mostram, por outro lado, que o uso de línguas indígenas foi predominante durante todo período colonial, inclusive pelos próprios portugueses aqui aportados e seus descendentes. As chamadas “línguas gerais” – todas derivadas do tronco “tupi-guarani”: a “língua geral amazônica”, ou nheengatu, uma variante do tupinambá usada pela sociedade mameluca do Norte; o “guarani criollo”, uma mistura entre o guarani falado originalmente na província do Guairá e o espanhol; e a “língua geral do sul”, ou “língua geral paulista”, formada a partir do contato dos tupi com portugueses na província de São Vicente – correspondiam à forma franca de comunicação na vida cotidiana dos sertões da colônia portuguesa. Infelizmente, o esforço administrativo lusitano em suplantar essas formas de comunicação resultou em grande pobreza de registros a respeito dos usos linguísticos coloniais.
O último documento expressa uma importante investida desse projeto colonizador. A “Lei dos Diretórios” de 1757, produzida, portanto, durante o período pombalino, retirou das mãos da Igreja Católica o controle dos povos indígenas americanos, passando-o diretamente para a máquina administrativa da Coroa. Enquanto o nheengatu ainda é falado em algumas regiões do Norte brasileiro, a língua geral paulista foi extinta no início do século XX, e, com ela, todo um modo de perceber, compartilhar e transformar o mundo. No entanto, ainda que seja dada como extinta, a língua geral paulista sobrevive no modo de falar caipira, também este um dialeto em vias de extinção graças ao processo de homogeneização cultural componente do projeto consolidação de uma sociedade de consumo – basta notar como a imagem do caipira, um representante de um modo de vida gerado em meio a trocas culturais e a difíceis condições de subsistência, é, em geral, estigmatizado e ridicularizado pelos meios de comunicação em massa.
Outras línguas indígenas, também formadas por intensos processos de trocas e transformações, não tiveram nem essa sorte. Ao longo do processo de colonização e, posteriormente, por meio da tutela ou extermínio oficial do Império ou, ainda, graças às ações indigenistas por várias vezes desastrosas da República, milhares de línguas (e, obviamente, as próprias tribos) indígenas foram (e continuam) sendo extintas. Perder uma língua é perder a memória da maneira pela qual os seres humanos se relacionam com o mundo, de modo que suprimir qualquer uma delas não parece ser, ao contrário do que acreditavam os administradores coloniais, algo “civilizado”. O mesmo pode se aplicar para os diferentes modos de falar que conhecemos atualmente e que, pelo simples fato de expressarem experiências também diversas, não podem ser considerados como inferiores a qualquer outro.