Ina von Binzer (1856-1929), educadora alemã, chegou ao Brasil em 1881, onde permaneceu até 1884. Ela tinha sido contratada por um fazendeiro do Rio de Janeiro para cuidar da formação de seus filhos. Utilizando o pseudônimo de Ulla von Eck, Ina von Binzer escreveu diversas cartas para uma amiga alemã contando de seu cotidiano, suas atividades na fazenda e compartilhando suas impressões sobre o Brasil. Muitas dessas cartas foram reunidas e publicadas na Alemanha ainda no final do século XIX – mas seria apenas na década de 1950 que versões traduzidas dessa correspondência apareceriam no Brasil. O trecho reproduz passagens de uma das primeiras cartas que von Binzer escreveu para sua amiga:
"(...) Minha cara Margarida. ‘Fazenda’ significa plantação. Sinto muito não escrever ‘hacienda’, pois vocês provavelmente ainda estão convencidas de que é assim que se diz e terei de decepcioná-las desde as primeiras linhas de minha carta (...)"
Sobre o excerto, podemos afirmar que:
Alternativas
Comentário
Chegando ao Brasil na década de 1880, Ina von Binzer deixa entrever em sua correspondência o cotidiano de uma consolidada elite cafeeira no sudeste brasileiro – cotidiano este que não corresponde às imagens exóticas e idílicas propagadas em grande parte da Europa. Destaca-se a “frustração” da educadora alemã ao não ser atacada por indígenas ou animais selvagens, bem como a “inocente” confusão entre português e espanhol. A compilação de sua correspondência durante o período em que atuou como preceptora no Brasil surge como uma das poucas vozes femininas entre os relatos de viajantes/estrangeiros no final do XIX. Além disso, o documento permite a observação de como o autor de uma correspondência constrói uma narrativa de si endereçada à outra pessoa – neste sentido, uma carta pode ser utilizada para analisar não apenas o que informa ao seu interlocutor, mas também como o autor escolhe contar o que conta e como interpreta acontecimentos diversos. Nesse sentido, o tom irônico adotado não torna inverossímeis os relatos do cotidiano na fazenda, mas deixa entrever as diferenças culturais e alteridade do autor.