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35ª36ª37ª38ª39ª40ª41ª42ª43ª44ª45ª46ª – Tarefa
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44ª questão

Ina von Binzer (1856-1929), educadora alemã, chegou ao Brasil em 1881, onde permaneceu até 1884. Ela tinha sido contratada por um fazendeiro do Rio de Janeiro para cuidar da formação de seus filhos. Utilizando o pseudônimo de Ulla von Eck, Ina von Binzer escreveu diversas cartas para uma amiga alemã contando de seu cotidiano, suas atividades na fazenda e compartilhando suas impressões sobre o Brasil. Muitas dessas cartas foram reunidas e publicadas na Alemanha ainda no final do século XIX – mas seria apenas na década de 1950 que versões traduzidas dessa correspondência apareceriam no Brasil. O trecho reproduz passagens de uma das primeiras cartas que von Binzer escreveu para sua amiga:

"(...) Minha cara Margarida. ‘Fazenda’ significa plantação. Sinto muito não escrever ‘hacienda’, pois vocês provavelmente ainda estão convencidas de que é assim que se diz e terei de decepcioná-las desde as primeiras linhas de minha carta (...)"

Sobre o excerto, podemos afirmar que:

 

Alternativas

A. Revela não apenas a convivência da educadora alemã no ambiente doméstico da elite cafeicultora brasileira do final do século XIX, mas também o discurso idílico e exótico construído pelo imaginário europeu sobre o Brasil.
B. Num momento em que cresciam as tensões a favor da abolição do trabalho escravo, o relato de Ina von Binzer descreve o que a alemã considera a indolência das elites cafeicultoras brasileiras – compostas por “doutores” sem estudo que passam parte do dia fumando ou descansando na rede.
C. Ina von Binzer destaca-se como autora de um dos poucos relatos de experiências de mulheres estrangeiras no Brasil em finais do século XIX, e sua narrativa demonstra como a correspondência constitui um tipo de documento que pode ser utilizado para apreender não apenas o que é narrado, mas também quem narra e para quem narra.
D. O tom irônico que perpassa a carta de von Binzer faz com que as cenas cotidianas por ela descritas se tornem inverossímeis para o historiador.



 

Comentário

Chegando ao Brasil na década de 1880, Ina von Binzer deixa entrever em sua correspondência o cotidiano de uma consolidada elite cafeeira no sudeste brasileiro – cotidiano este que não corresponde às imagens exóticas e idílicas propagadas em grande parte da Europa. Destaca-se a “frustração” da educadora alemã ao não ser atacada por indígenas ou animais selvagens, bem como a “inocente” confusão entre português e espanhol. A compilação de sua correspondência durante o período em que atuou como preceptora no Brasil surge como uma das poucas vozes femininas entre os relatos de viajantes/estrangeiros no final do XIX. Além disso, o documento permite a observação de como o autor de uma correspondência constrói uma narrativa de si endereçada à outra pessoa – neste sentido, uma carta pode ser utilizada para analisar não apenas o que informa ao seu interlocutor, mas também como o autor escolhe contar o que conta e como interpreta acontecimentos diversos. Nesse sentido, o tom irônico adotado não torna inverossímeis os relatos do cotidiano na fazenda, mas deixa entrever as diferenças culturais e alteridade do autor.