A partir de meados do século XIX a região entre Araguari e Oiapoque, no atual Amapá, passou a ser povoada por aventureiros, desertores, escravos fugidos e quilombolas. No final do século XIX, a região passou a ser uma região de litígio entre Guiana Francesa e Império do Brasil. Um dos desdobramentos deste litígio foi a efêmera República do Cunani, em 1885, uma tentativa de independência que contou com algum apoio da França.
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“Como sabe a assembléa, o Pará limitando-se ao norte com as Goyanas Francesa, inglesa e hollandesa, está exposto á ver a sua população escrava evadir-se para essas colônias (...)"
Alternativas
Comentário
Atualmente poucas pessoas discordariam que fronteiras têm peso fundamental na política e mesmo na vida diária das pessoas. Seja na maneira como nós nos concebemos pertencentes a uma comunidade ou no trato burocrático com diferentes esferas do governo, somos influenciados por limites municipais, estaduais e, principalmente, nacionais. Entretanto, dificilmente lembramos que fronteiras nacionais são delimitações recentes e que raramente um país possuiu uma configuração anterior ao século XIX ou mesmo anterior aos anos iniciais início do século XX. Como exemplos, podemos citar os casos da Itália e da Alemanha, países que surgiram de forma unificada apenas no final do século XIX. Mesmo o Brasil dos primeiros anos do século XX não possuía a configuração atual; alcançada apenas após a compra do Acre, em 1903, quando o país passou a ter uma delimitação mais familiar à atual. Contudo, uma nação não é feita apenas de delimitações geográficas. Embora mapas tenham grande influência grande na maneira como as pessoas imaginam uma comunidade, é a dinâmica social que determina a validade de uma fronteira e a identidade com uma unidade territorial. Assim como delimitações geográficas podem ser modificadas, as identidades nacionais também podem sofrer alteração de acordo com o contexto. Uma situação como a que ocorreu em Cunani no século XIX, uma região sem possessão definida e disputada entre Brasil e França, abria possibilidades para que os moradores locais construíssem alianças que melhor servissem aos seus interesses. Para populações marginalizadas como escravos, quilombolas, desertores e indígenas, a possibilidade de alinhamento (ou ameaça de alinhamento) a uma ou outra nação se traduziu em um aumento da sua capacidade de negociação, pois a zona de disputa dava valor aos excluídos sociais e os transformava em peças importantes do um jogo político internacional. Neste contexto, a capacidade de julgar a situação e de fazer escolhas certas poderia significar ganho de autonomia ou mesmo garantias que, por sua condição de marginalizados, normalmente lhes seriam negados.