Entre os dias 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880 a capital do Império foi tomada por uma série de manifestações públicas que ficaram conhecidas como Revolta do Vintém ou Motim do Vintém. Tais manifestações tinham como foco principal protestar contra a cobrança da taxa de um vintém (moeda de cobre cujo valor correspondia a 20 réis) sobre as passagens de bondes que circulavam na cidade do Rio de Janeiro e que entraria em vigor a partir do dia 1º de janeiro de 1880.
Em sua Revista Illustrada, Ângelo Agostini motivado pela “(…) ansiedade de nossos leitores em vêr produzidos os principais e extraordinários acontecimentos (…)”, publicou um suplemento à edição 189 do semanário.
Sobre o documento podemos dizer que:
Alternativas
Comentário
Instituído pelo então Ministro da Fazenda Affonso Celso de Assis Figueiredo, o imposto de 20 réis (um vintém) sobre as passagens de bonde levou às ruas da cidade do Rio de Janeiro milhares de pessoas, concentradas em comícios (meetings) organizados por líderes republicanos e que culminaram em desordem, depredação de bondes e uma atuação violenta da polícia. As principais críticas ao imposto incidiam sobre a forma de sua cobrança e a sua proporcionalidade: o imposto era calculado a partir do menor valor da passagem de bonde (no período as passagens de bonde variavam entre 100 e 400 réis) e seria aplicado como valor fixo independentemente do preço da passagem. Dessa forma, prejudicava a população mais pobre, que utilizava as linhas mais baratas de bonde e que, proporcionalmente, eram as mais oneradas pelo “imposto do vintém”.
Desde seu anúncio, no dia 13 de dezembro de 1879, o novo imposto movimentou a imprensa carioca, que debateu intensamente a imposição do governo, suas intenções e possíveis consequências para a população, especialmente a mais pobre. Nas páginas da Revista Illustrada o movimento de protesto aparece descrito como iniciado com os já conhecidos e pacíficos meetings encabeçados principalmente por republicanos, que objetivavam levar ao imperador uma petição pelo fim do imposto, mas que teriam se transformado, em razão da atuação da polícia, em um protesto violento, com destruição do patrimônio, forte repressão policial e mortes. A forma como Ângelo Agostini descreve os fatos acaba por colocar o povo no centro dos acontecimentos, representando-o, no entanto, como o Zé Povinho, uma figura ingênua e manipulável. Uma leitura mais apurada do documento permite perceber que as personagens principais são os líderes republicanos representados por Lopes Trovão e Ferreira de Menezes, a polícia com sua violência já conhecida naquela sociedade e o Imperador que, em sua omissão, permitiu o desenrolar dos acontecimentos.
É importante lembrar que o relato de Agostini é apenas uma versão dos fatos, uma versão marcada pela posição política do jornalista, que o tempo todo contrapõe a liderança calma, pacífica e bem intencionada dos republicanos ao caos e omissão do Império. Destaca-se nesse documento a importância de uma leitura que inclua imagem e texto, uma vez que separadas elas perdem o sentido daquilo que se deseja informar. Trata-se de uma marca da imprensa de Ângelo Agostini.
Resta ainda ressaltar que a leitura do documento pode nos trazer à memória eventos ocorridos no ano de 2013 e que ainda ocorrem em nossa sociedade. Fica aqui a sugestão para o professor fomentar discussão sobre o tema a partir do Vintém.