“quando uma mulher, vestida de seda, se atira ao chão, brutalmente, como aquela, quando ela chora (...)”
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Comentário
Belmiro de Almeida (Cerro, 1858 – Paris, 1935) foi um importante artista acadêmico brasileiro, respeitado por seus contemporâneos pelas inovações propostas aos temas tradicionais da pintura e por sua grande qualidade artística.
O escritor e crítico de arte Luiz Gonzaga Duque Estrada (1883-1911), que possivelmente serviu ao artista como modelo para o pensativo personagem masculino do quadro, e antes mesmo deste ser exposto, despertou a curiosidade do público ao ser mencionado nos jornais. Sobre a tela, afirmou:
“(…) Os assuntos históricos têm sido o maior interesse dos nossos pintores que, empreendendo-os, não se ocupam com a época nem com os costumes que devem formar os caracteres aproveitáveis na composição dessas telas. Belmiro é o primeiro, pois, a romper com os precedentes, é o inovador, é o que, compreendendo por uma maneira clara a arte de seu tempo, interpreta um assunto novo. Vai nisto uma questão séria – menos o de uma predileção do que a de uma verdadeira transformação estética. O pintor, desprezando os assuntos históricos para se ocupar de um assunto doméstico, prova exuberantemente que compreende o desideratum das sociedades modernas, e conhece que a preocupação dos filósofos de hoje é a humanidade representada por essa única força inacessível aos golpes iconoclastas do ridículo, a mais firme, a mais elevada, a mais admirável das instituições – a família. É desta arte que o povo necessita porque é a que lhe fala intimamente das alegrias e das desilusões, cujos sulcos ainda permanecem em seu coração”.
Luiz Gonzaga Duque-Estrada. A arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: s. ed. , 1888, p. 190.
Diferentes interpretações foram realizadas sobre a cena representada, desde o primeiro momento em que o quadro foi exposto ao público até os dias atuais. O crítico de arte do documento usado na questão trata a cena como se estivesse de fato se desenrolando à sua frente e assim condena o homem por sua indiferença, ridiculariza-o por sua roupa e demonstra o impulso de acolher e cuidar da mulher. Já críticos posteriores chamaram a atenção para a cena ocorrer após um suposto adultério, o que estaria implícito na atitude dos personagens, na carta amassada entre a mão enluvada do homem, no pranto da mulher.
Segundo Gilda de Mello e Souza, embora a crítica visse na tela uma disputa conjugal, esta “_na verdade (…) representa a introdução revolucionária na pintura da época do tema do adultério, tão explorado pelo vaudeville, pelo folhetim e pela caricatura de costumes_” (SOUSA, Gilda de Mello, Exercícios de Leitura. São Paulo: Ed. Duas Cidades, 1980, p. 244).
As diferentes interpretações possíveis fazem parte da riqueza em entender as obras de arte como documentos históricos.