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30ª questão

"No dia 25 do corrente apparaceo nesta huma insurreição de pretos, que felizmente falhou (...)"

Sobre a carta e os fatos que ela descreve podemos afirmar:

 

Alternativas

A. Exalta a importância da delação feita por mulheres convidadas a participar do movimento, estabelecendo essa prática como elemento tranquilizador dos senhores e da população em geral.
B. Apresenta a insurreição como organizada, planejada e executada por indivíduos que se destacavam por seu ardor e estratégias na busca por armamentos que poderiam tornar sua inferioridade numérica algo menos relevante no combate.
C. Descreve o Levante dos Malês, ocorrido na cidade de Salvador em 1835, que tinha como principais líderes e envolvidos escravos muçulmanos africanos e que se tornou um exemplo do risco que a população branca corria com a manutenção da escravidão.
D. Trata-se de uma carta publicada no Rio de Janeiro, que traz informações de uma rebelião de negros ocorrida poucos dias antes e escrita ainda no calor dos acontecimentos por uma testemunha ocular dos fatos.



 

Comentário

A carta apresentada foi escrita ainda no decorrer das agitações provocadas na cidade de Salvador, durante e nos dias que se seguiram ao levante de escravos conhecido como Revolta dos Malês, ocorrido entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835. Essa rebelião tem como característica principal a atuação de escravos africanos muçulmanos, os malês, que na madrugada do dia de Nossa Senhora da Guia se sublevaram em busca da liberdade.

Os acontecimentos deflagrados pela delação da rebelião foram rápidos, durando apenas cerca de 4 horas, e extremamente violentos. Apesar de denunciados, os malês seguiram em seu projeto de rebelião e provocaram um estado de guerra nas ruas de Salvador. A inferioridade numérica e bélica dos malês contribuiu de forma decisiva para o sufocamento da revolta, mas suas atitudes e audácia marcariam de forma irreversível toda a sociedade do século XIX.

Publicado na capital do Império cerca de 15 dias após a rebelião, esse documento faz parte de um considerável grupo de notícias que fazia conhecer ou analisava os fatos ocorridos na Bahia, tornando essa insurreição de escravos não apenas a mais conhecida no século XIX, mas principalmente um exemplo do temor que a existência de uma população majoritariamente negra, africana e escrava, causava. Segundo dados levantados pelo historiador João José Reis, na época a cidade de Salvador tinha cerca de 65.000 habitantes, destes 42% eram escravos, 36% africanos e crioulos livres e apenas 22% da população era branca. Dos cerca de 27.300 escravos de Salvador mais de 8000 eram nagôs [grupo genérico, nomenclatura dada para várias etnias vindas do Golfo do Benin].

Os malês eram, na Bahia da primeira metade do século XIX, diretamente associados aos nagôs e haussas. Vindos da região do Golfo do Benin, embarcados na chamada Costa dos Escravos, “jejes”, “haussas”, “ijebus”, “egbas”, “yagbas”, “oiós”, ilexás” etc, aqui se encontraram associando-se, ou não, devido a uma maior ou menor identificação cultural, ressignificada pela experiência do cativeiro. Tomando atitudes que em vários momentos poderiam caracterizá-los, diante dos brancos, como pertencentes a uma única e grande nação, o que explica a declaração do autor da carta de que os nagôs organizaram a revolta.

Ainda segundo o historiador José João Reis, a rebelião dos malês foi um movimento de africanos e mais, de africanos muçulmanos. Uma revolta cuja associação dos indivíduos dava-se por motivos étnicos e religiosos. Os muçulmanos foram responsáveis pela organização da revolta, mas não hesitaram em recrutar escravos não muçulmanos para participar do levante, esse recrutamento levou em consideração o elemento identitário, sendo a maioria dos indivíduos presos após a revolta identificados como nagôs.