Na ocasião da posse do cargo de sócio titular da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro em 1945, o literato e diplomata Guimarães Rosa proferiu um discurso para agradecer o reconhecimento de seu gosto e trabalho em prol da geografia brasileira. Leia o documento e escolha uma alternativa.
"Grande é, agora, a minha satisfação, grande a distinção que me conferis, neste momento (...)"
Alternativas
Comentário
O documento retrata um tipo de discurso bastante diferente daquele que se costuma associar ao grande literato Guimarães Rosa: linguajar oficial, num português rebuscado e afetivo, mas sem a presença de neologismos e inversões gramaticais tão comuns às famosas obras “Grande Sertão: Veredas” (1956) e “Sagarana” (1946), por exemplo. No entanto, esse discurso faz-se importante na trajetória desse escritor porque, proferido em 1945, evidencia o momento de uma nova expansão territorial organizada pelo governo federal, agora em direção às terras do Mato Grosso e Amazonas e correlatas às academias de ciência brasileiras. Surgia nesse contexto a figura do sertanista que, como intelectual atrelado ao projeto estatal, tinha como papel dar suporte à entrada pelo sertão despovoado – claro, sendo uma vez mais desconsiderada a presença do indígena como habitante e dono primeiro de tais terras. Sertanistas como os irmãos Villas Bôas, admiradores do interior brasileiro – assim como Guimarães Rosa –, filiaram-se a projetos da Fundação Central do Brasil, elaborada pelo propósito de integração nacional de Getúlio Vargas dentro do regime do Estado Novo. Conhecida como “Marcha para o Oeste”, expedições como a de Roncador-Xingu renderam a fundação do Parque Nacional do Xingu (1961), um desdobramento dos divergentes interesses que compuseram essa saga da ocupação geográfica do Brasil. O sertanista não revela o início da literatura regionalista, desenvolvida desde meados do século XIX, mas sim o envolvimento de grandes intelectuais brasileiros no reconhecimento oficial do território e das fronteiras brasileiras. Guimarães Rosa, tendo atuado muitos anos como diplomata, desenvolveu um gosto particular pela exuberância do sertão brasileiro e a ele se dedicou a partir da escrita de seu primeiro livro regionalista, Sagarana, vencedor de prêmios que deslancharam a sua nova carreira, sem ter abandonado também o exercício da atividade pública.