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Observe a imagem do quadro e a imagem do fotograma de uma cena de filme e escolha uma alternativa:
Alternativas
Comentário
O objetivo da questão é discutir o processo de construção de uma versão histórica (em imagens) a respeito do Descobrimento do Brasil. Tanto o quadro de Victor Meirelles quanto o filme de Humberto Mauro afiançam-se no mesmo documento histórico: a Carta de Pero Vaz de Caminha, tomada quase como um script. Observe o seguinte trecho da carta:
“Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço”.
O quadro A primeira Missa no Brasil surge num momento em que o Estado brasileiro investia na produção de uma História oficial para o país. Neste contexto, ocorreram a criação do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) e a implementação da AIBA (Academia Imperial de Belas Artes). Já o filme de Humberto Mauro estava atrelado institucionalmente ao INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo), um órgão do governo federal criado em 1936 e subordinado ao Ministério da Educação e Saúde Pública. Dentre outros objetivos, a produção de filmes para a exibição escolar merecia destaque. Para a produção de sua narrativa, Mauro lança mão não apenas da Carta de Caminha, que serve de fio condutor da história, como procura estabelecer aproximação visual com pinturas históricas a fim de legitimar a veracidade do seu discurso. Tanto o quadro de Victor Meirelles e o filme de Humberto Mauro são diferentes narrativas de um evento histórico: não há hierarquia de fidedignidade entre elas.