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“Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta (...)
Sobre o trecho de Terra Sonâmbula e sobre o contexto ao qual ele se refere, podemos afirmar que:
Alternativas
Comentário
Em 1992, o moçambicano Mia Couto publicou seu primeiro romance, Terra Sonâmbula, explorando em suas páginas os impactos da guerra civil instaurada na antiga colônia portuguesa de Moçambique após sua independência, em 25 de junho de 1975, no contexto do neocolonialismo. Como o texto de Mia Couto indica, o governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que assumira o poder após a independência, passara a receber forte oposição de portugueses e ex-partidários da FRELIMO que se refugiaram na antiga Rodésia (atual Zimbábue) – daí a passagem “Meu pai dizia que era confusão vinda de fora, trazida por aqueles que tinham perdido seus privilégios”. A guerra civil moçambicana também pode ser compreendida, como muitas guerras pós-independência desse período, como um desdobramento da Guerra Fria, já que EUA e URSS apoiavam militarmente lados distintos dos conflitos. O romance de Mia Couto, construído a partir de uma relação íntima entre a poesia e a prosa, sobrepõe duas narrativas que se intercalam – em suas páginas, acompanhamos a trajetória do velho Tuahir e do menino Muidinga que, sem laços que os atrelem a qualquer lugar ou instituição, vagam pelo território moçambicano devastado pela guerra. A outra narrativa origina-se dos diários/cadernos que Muidinga encontra entre os destroços de um ônibus queimado, e que narram o cotidiano de uma família que vivia cercada por relativa tranquilidade em uma aldeia até a eclosão da guerra civil. A literatura de Mia Couto é conhecida pela forte influência do brasileiro João Guimarães Rosa e da oralidade moçambicana.