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Observe as fotografias de bandos de cangaceiros realizadas por Benjamin Abrahão Botto.
A partir das imagens e de seu conhecimento sobre o tema, escolha uma das alternativas:
Alternativas
Comentário
As imagens constituem uma série fotográfica feita pelo libanês Benjamin Abrahão Botto (1900-1938), que veio para o Brasil em 1915, após desertar de uma convocação para lutar na Primeira Grande Guerra. Trabalhou como mascate no Nordeste brasileiro até conquistar a confiança de Padre Cícero, tornando-se seu secretário particular. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, após a morte de Padre Cícero, Benjamin chegou a vender como relicário fios de cabelo supostamente do sacerdote, o que ocasionou sua saída de Juazeiro do Norte. Benjamin havia estado com Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) pela primeira vez em 1926, quando da visita do bando de cangaceiros a “Padim Ciço”. Fascinado pela figura de Lampião, decidiu fazer do cangaço seu trabalho e tentou se tornar fotógrafo do bando, o que conseguiu em 1936. Benjamin queria fazer fama e dinheiro com suas fotos, o que não se concretizou devido a seu assassinato, em 1938. Entretanto, suas fotos tornaram Lampião ainda mais famoso.
As fotografias em destaque, bem como o restante da série, retratam o bando de Lampião em poses de guerra, mas também em cenas cotidianas, como momentos de costura de roupas, brincadeiras com cães etc. A publicação das imagens de Benjamin Abrahão Botto em vários jornais do país ajudou a construir a figura do cangaceiro brasileiro e a de Lampião como seu maior expoente. Outros cangaceiros conhecidos, como Jesuíno Brilhante (1844-1879) e Antônio Silvino (1875-1944), não investiram em construir sua imagem pública. Lampião, ao contrário, gostava de publicidade e aceitou Benjamin em seu bando durante o ano de 1936, quando a série fotográfica foi produzida.
Ao utilizar a fotografia como fonte histórica, a interação entre fotógrafo e fotografado deve ser considerada, pois a tensão dessa relação determina o resultado final da imagem. Nesse sentido, as imagens dos cangaceiros são carregadas de intenção e constituem uma representação que pode ser analisada historicamente. É possível vislumbrar que Lampião, ao aceitar o fotógrafo em seu grupo e, ainda, ao aparecer de forma copiosa em diversas imagens, intentava construir e transmitir uma imagem de si e de seu grupo.
O banditismo foi um fenômeno recorrente em sociedades rurais tais quais as que se organizaram na América Latina. Nesse aspecto, países como Argentina e México, por exemplo, conheceram um banditismo tal qual o cangaço brasileiro. Na Argentina, pode-se citar Martín Fierro e, no México, Pancho Villa. Embora haja muitas especificidades em cada caso, sobretudo no que tange às relações com o Estado, a mitificação e a construção de heróis entre esses fora-da-lei é uma característica comum a diferentes países. Curiosamente, na 1ª ONHB já tivemos uma questão sobre o conceito de “banditismo social” associado à questão do cangaço.