]7ª ONHB – Olimpíada Nacional em História do Brasil

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33ª questão

“Alguma coisa mais do que a simples loucura de um homem era necessária para este resultado e essa alguma coisa é a psicologia da época e do meio (...)"

As coletividades anormaisTrecho de Livro

Com base no excerto, é possível afirmar:

 

Alternativas

A. A explicação científica relacionada à guerra de Canudos atribui ao comportamento sertanejo – considerado “um elemento passivo” e de traços primitivos - um caráter patológico e anormal.
B. O médico Nina Rodrigues propõe uma explicação de base científica para um comportamento social coletivo.
C. A obra de Nina Rodrigues, cujo valor científico não foi devidamente reconhecido no Brasil, deu origem ao principal método de análise sociológica contemporânea: o “determinismo racial”, também conhecido como “psicologia de massas”.
D. Trata-se de um tipo de discurso de base cientificista que naturalizava diferenças sociais, atribuindo aos comportamentos dos grupos considerados subalternos um caráter de degeneração biológica causado por fatores raciais e/ou geográficos.



 

Comentário

O médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e fixou-se, posteriormente, em Salvador, onde, a partir da Faculdade de Medicina da Bahia, criou uma verdadeira “escola intelectual” de estudos médicos e antropológicos.

Nina Rodrigues lançou-se à empreitada que se tornou comum aos intelectuais conhecidos como “geração de 1870”: tentar compreender as especificidades da nação, de modo a pensar na viabilidade de uma marcha do Brasil rumo à civilização e ao progresso. Assim como seus pares, Nina Rodrigues foi influenciado pela principal forma pela qual então se analisavam as especificidades dos povos: uma antropologia europeia praticada por médicos e biólogos e que via em sutis diferenças anatômicas e fisiológicas determinações morais e intelectuais que conduziriam a uma hierarquia racial – claro, com os brancos europeus no topo da pirâmide civilizacional humana. A este respeito, o historiador Eric Hobsbawm escreveu o seguinte:

“O racismo atravessa o pensamento de nosso período [1848-1875] numa extensão difícil de julgar hoje, e nem sempre fácil de compreender. (Por que, por exemplo, o horror generalizado da miscigenação e a crença quase universal entre os brancos de que os ‘mestiços’ herdavam precisamente as piores características das raças de seus pais?) Além de sua conveniência como legitimação da dominação do branco sobre os indivíduos de cor, dos ricos sobre os pobres, este fato talvez possa ser mais bem explicado como um mecanismo por meio do qual uma sociedade fundamentalmente desigual, mas baseada numa ideologia fundamentalmente igualitária, racionalizava suas desigualdades e tentava justificar e defender privilégios que a democracia implícita em suas instituições inevitavelmente desafia. O liberalismo não tinha nenhuma defesa lógica contra a igualdade e a democracia; assim sendo, a barreira ilógica do racismo foi levantada: a própria ciência, o trunfo do liberalismo, podia provar que os homens não eram iguais.”

“Mas, evidentemente, a ciência do nosso período não chegou a prová-lo, embora alguns cientistas o desejassem. A tautologia darwinista (‘sobrevivência dos mais aptos’, sendo que a prova de ‘aptidão’ era precisamente a sobrevivência) não podia provar que os homens fossem superiores às minhocas, pois ambos sobreviviam com sucesso. A ‘superioridade’ era entendida pela redução da equação de igualar história evolucionista a ‘progresso’. E mesmo que a história evolutiva do homem discernisse corretamente o progresso em algumas questões importantes – principalmente ciência e tecnologia –, embora não dando atenção a outras, não conseguiu, e aliás não poderia, fazer do ‘atraso’ um fato permanente e irreparável. Pois ela se baseava na premissa de que os seres humanos, pelo menos na sua emergência como Homo sapiens, eram os mesmos, seus comportamentos obedecendo às mesmas leis uniformes, embora em circunstâncias históricas diferentes. […] O ‘darwinismo social’ e a antropologia ou biologia racista pertencem não à ciência do século XIX, mas à sua política” (HOBSBAWM, Eric J. A era do capital, 1848-1857. São Paulo: Paz e Terra, 2012, p. 403-4).

Nina Rodrigues diferenciava-se do modelo de pensamento científico apresentado por Hobsbawm na medida em que defendia o “poligenismo” (ou seja, a tese segundo a qual as diferentes “raças” humanas possuem origens evolutivas diferenciadas, conformando até mesmo diferentes espécies) em detrimento do “monogenismo” (para o qual as espécies humanas descendem todas de um mesmo ancestral, embora pudessem ter se “degenerado” de diferentes maneiras em relação ao tipo humano “puro”). No entanto, foi a partir de pressupostos e preconceitos muito semelhantes que Nina Rodrigues se encarregou de explicar a guerra de Canudos, ocorrida entre os anos de 1896 e 1897 no “sertão baiano”. O movimento popular chamou a atenção da imprensa e de cientistas do “litoral” (então considerado o lugar da “civilização”, em detrimento da “barbárie” que reinava nos “sertões”, espaço dominando por populações supostamente “primitivas” e “incivilizadas”), pois que as armas e a inteligência do mundo “civilizado” se viam prostradas diante dos jagunços nordestinos, dos quais não se esperava nenhum tipo de resistência a uma ordem alheia, imposta a partir do centro do governo nacional, então dominado pelos barões do café e, portanto, totalmente voltado para a produção do “ouro verde”.


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