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A partir da análise das imagens e de seu conhecimento sobre o tema, é possível afirmar que:
Alternativas
Comentário
Em setembro de 1987, equipamentos abandonados nas ruínas do antigo Instituto Goiano de Radioterapia chamaram a atenção de Wagner Motta e Roberto Santos Alves. Desempregados vivendo em tempos de inflação galopante, viram a chance de revender ferro e chumbo ao dono de um ferro velho. Entre os equipamentos que Roberto e Wagner levaram para a casa de Roberto, na Rua 57 do Bairro Popular, estava um aparelho radioterápico que continha uma cápsula de césio 137 em um invólucro de chumbo que foi rompido e vendido com outras peças para o ferro-velho de Devair Alves Ferreira. O brilho azul emitido pela cápsula encantou Devair, que passou a exibi-la a parentes e vizinhos, e partículas radioativas suspensas no ar rapidamente se espalharam pela região. Apenas semanas mais tarde os sintomas apresentados por aqueles que tiveram contato com o “pó mágico” – náusea, diarreia, vômito, dores de cabeça, por exemplo – foram identificados como contaminação radioativa, que vitimou fatalmente e de imediato quatro pessoas. O despreparo das autoridades para lidar com o acontecimento tornou-se evidente na demora ao atendimento às centenas de vítimas centenas, na falta de preparo para conduzir a descontaminação das áreas atingidas e também nas discussões que se iniciaram sobre o fim a ser dado para as muitas toneladas de lixo radioativo geradas pelo acidente. O distrito de Abadia de Goiás (elevado à condição de município, em 1995) começou a receber as toneladas de lixo em outubro do mesmo ano, sob os protestos da população. O incidente também alimentou discussões sobre o uso da energia nuclear no Brasil: a memória de grandes acidentes como os das usinas nucleares de Three Miles Island, nos Estados Unidos, em 1979, e de Chernobyl, na União Soviética, em 1986, intensificaram os debates sobre o investimento do governo na Central Nuclear de Angra dos Reis, bem como na construção de uma central de enriquecimento de urânio na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo. O artista plástico Siron Franco (Goiânia, 1947) foi uma das principais vozes na denúncia ao abandono das vítimas do césio 137, especialmente com sua Série Césio, que, em 23 quadros pintados em técnica mista, recompõe paisagens e cotidianos contaminados pela radioatividade. São pinturas que revelam os espaços – sejam os públicos, sejam os da intimidade do Bairro Popular – transformados pela contaminação radioativa.