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23ª 24ª 25ª 26ª 27ª 28ª 29ª 30ª 31ª 32ª 33ª 34ª – Tarefa
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24ª questão

O documento é parte da obra do cronista Ambrósio Fernandes Brandão, Diálogos das Grandezas do Brasil, escrita em 1618. Nela, por meio do diálogo entre dois personagens, Brandônio e Alviano, pretende-se registrar a realidade do Brasil no início do século XVII. No trecho selecionado, Brandônio descreve os índios Potiguar, do sertão da Paraíba.

“(...) [o gentio é] senhor de todo o sertão, belicosíssimo e inclinado a guerras, custou muito trabalho e despesa fazê-lo reduzir à nossa amizade e desviá-lo da que tinha com os franceses (...)"

A partir da análise do documento e de seus conhecimentos, é possível afirmar que:

 

Alternativas

A. O diálogo, enquanto gênero textual, remonta à antiguidade clássica e a filósofos como Platão, assinalando preocupações pedagógicas e retóricas.
B. A comparação das índias com Diana e suas ninfas comprova a influência da mitologia greco-romana sobre os hábitos dos povos indígenas brasileiros.
C. Brandônio descreve o sertão como lugar do gentio bravio e propenso a guerras, mas, ao mesmo tempo, espaço de promessa de riquezas.
D. Nos Diálogos, a presença indígena aparece como um empecilho à colonização e à ocupação territorial.



 

Comentário

A obra Diálogos das Grandezas do Brasil, escrita em 1618 sob a forma de uma crônica socioeconômica da colônia portuguesa, tem como autor Ambrósio Fernandes Brandão, nascido em Portugal e morador de Pernambuco. Feitor, administrador de bens e contratador de dízimos em Pernambuco, Brandão participou da conquista da Paraíba nas décadas finais do século XVI, onde exerceu o posto de capitão auxiliar. Esses traços biográficos já o diferem de outros cronistas, como Gabriel Soares de Souza, pois não pertencia às camadas mais abastadas da sociedade, mas possuía maior contato com a sociedade urbana. Isso o torna uma importante fonte sobre a reprodução do imaginário barroco e os valores da elite açucareira pela população livre (como oficiais mecânicos, ex-escravos e comerciantes).

A temática do sertão é recorrentemente abordada pelo cronista e associada à abundância, fertilidade e inúmeros outros benefícios, tanto materiais quanto espaciais. Entretanto, a presença indígena nos sertões se torna, na obra, um empecilho para a colonização portuguesa e para o aproveitamento integral do potencial da colônia. Nos séculos anteriores, nas crônicas escritas, por exemplo, pelo já citado Soares de Souza, o sertão era representado como terra de riquezas e o índio interpretado como parte dessa natureza exótica, e não tanto como obstáculo que separava os portugueses dela. Em Brandão, o sertão é terra do gentio bravo, lugar dominado pelos “belicosíssimos” índios e a riqueza nela encontrada estava associada, também, a essa dificuldade de adquiri-la – as “entradas” no sertão deveriam ser feitas à mão armada. Apesar dessas diferenças, que nos ajudam a traçar as variações no imaginário açucareiro entre fins do XVI e fins do XVII, o sentido básico da ideia de sertão permaneceu sem grandes alterações: o espaço onde a colonização era mais uma promessa que um fato.

A conversão do sertão, lugar inóspito e não economicamente produtivo, a essa promessa nunca realizada está ligada à própria condição da área açucareira. Até o final do século XVI, o sertão era caracterizado apenas como um espaço da “não civilização”, devido à ausência de súditos da Coroa e de sua exploração efetiva. Com a consolidação da estrutura social e hierárquica da sociedade açucareira, com cada vez menos ofertas e oportunidades de mobilidade e ascensão, o imaginário que cercava as vilas do açúcar começou a ser transposto para o sertão, reconfigurado como esse novo Éden.

O aspecto formal da obra de Ambrósio Fernandes Brandão também deve ser levado em consideração na análise do documento. Os diálogos são um gênero literário que tem suas origens na antiguidade, quando utilizado por Platão com finalidades pedagógicas e retóricas e como fundamento de sua filosofia. A escolha do gênero pelo cronista sugere não só a diversidade das formas de domínio utilizada pelos portugueses sobre os indígenas – que iam além da dominação física e direta e abarcavam, também, dimensões linguísticas, biológicas e epistemológicas – mas também o peso das estruturas de pensamento clássico ocidental sobre o autor na construção de sua narrativa.

No trecho selecionado, o paralelo com a antiguidade clássica continua com a utilização da mitologia, representada por Diana e suas ninfas, como base comparativa para a descrição e análise dos costumes indígenas. Dessa maneira, sua interpretação tem como pressuposto a valorização da cultura greco-romana, o que conduz o leitor a se identificar com a cultura letrada e ocidental e rejeitar uma possível empatia aos hábitos indígenas, negando-lhes significados socioculturais próprios.


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