“Entram Patrício e Benedito, casacalmente vestidos, procurando apresentar-se o mais elegantemente possível. (...)"
"(...) por mais que diversas peças dos anos 1920 mostrem malandros e mulatas representando um alegre, festivo e mestiço caráter nacional, isto não significa que todos os espectadores voltassem para suas casas convencidos de que esta associação seria plenamente verdadeira, ficando orgulhosos com esta constatação. (...)"
É possível afirmar que:
Alternativas
Comentário
Nascido das Revistas de Ano, gênero teatral bastante difundido no Rio de Janeiro nas duas últimas décadas do século XIX e que teve em Artur Azevedo seu maior expoente, o teatro de revista se firmou como um importante veículo de entretenimento e cultura de massa nas primeiras décadas do século XX, abordando temas que estavam em voga no período – daí a denominação “revista” ou “passar em revista” os assuntos em evidência. Considerado injustamente como um gênero menor, em função de servir como entretenimento para as camadas menos cultas da sociedade, o teatro de revista trazia uma grande profusão de números musicais, danças, piadas de duplo sentido e linguajar muitas vezes considerado chulo. Muitos temas importantes para a sociedade do período foram veiculados pelo teatro. No caso em questão, os temas raciais e da mestiçagem foram reforçados com o surgimento de uma companhia formada por artistas negros e que teve seu auge na encenação do espetáculo “Tudo Preto”, trazendo a discussão sobre uma pretensa democracia racial no auge dos debates sobre a construção de uma identidade nacional.
O tom satírico do texto teatral pode parecer, à primeira vista, autodepreciativo; no entanto, o simples surgimento de uma companhia composta por negros já era, em si, um movimento político importante, e a companhia foi bastante aclamada pela imprensa militante do período. A referência a importantes personalidades negras como Henrique Dias, Cruz e Souza, André Rebouças, Luís Gama e José do Patrocínio dá a dimensão da imagem que o autor advogava para a companhia, ou seja, assumir o papel de transformadores de seu próprio contexto ao organizar uma companhia “com gente da raça”. Ainda, mesmo as brincadeiras e ironias com os participantes de “Tudo Preto” indicava como diferentes sentidos podiam ser interpretados pelas plateias, aí inclusas várias camadas sociais e os afrodescendentes.